Papel da LEITURA
"Quem Não Lê, Mal Fala, Mal Ouve, Mal Vê".
sábado, 29 de março de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
terça-feira, 4 de março de 2025
Escritor Affonso Romano de Sant'anna morre no Rio
Publicação compartilhada do site G1 GLOBO RJ, de 4 de março de 2025
Escritor Affonso Romano de Sant'anna morre no Rio
Ele sofria de Alzheimer desde 2017 e estava acamado havia 4 anos. O velório vai acontecer na Capela Histórica do Cemitério da Penitência na quarta-feira (5).
Por g1 Rio
O escritor Affonso Romano de Sant'anna morreu, nesta terça-feira (4), em sua casa em Ipanema, na Zona Sul do Rio, aos 87 anos. A informação foi confirmada pela família.
O escritor era mineiro e foi casado com a também escritora Marina Colasanti, que morreu em janeiro deste ano. Ele sofria de Alzheimer desde 2017 e estava acamado havia 4 anos.
O velório vai acontecer na Capela Histórica do Cemitério da Penitência, na quarta-feira (5), entre 11h e 14h.
Affonso deixa uma filha, a atriz, roteirista e diretora Alessandra Colasanti, além de um neto.
Legado
Mineiro de Belo Horizonte, Affonso Romano deixou mais de 60 obras em seis décadas de intensa produção.
Lecionou literatura no exterior, dirigiu o departamento de letras da PUC-Rio, atuou como crítico literário, foi cronista do Jornal do Brasil e do jornal O Globo.
Na década de 1990, assumiu a presidência da biblioteca nacional, período em que instituiu o Programa Nacional de Incentivo à Leitura, em vigor até hoje.
Texto reproduzido do site: g1 globo com/rj
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Aos 87 anos, morre no Rio a escritora Marina Colasanti
Legenda da foto: Marina Colassanti: O corpo da escritora será velado no salão nobre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, na Zona Sul do Rio de Janeiro - (Crédito da foto: divulgação)
Publicação compartilhada do site do JORNAL DO BRASIL, de 28 de janeiro de 2025
Aos 87 anos, morre no Rio a escritora Marina Colasanti
Mais de 70 livros e diversos prêmios marcaram carreira literária
Por CADERNO B (redacao@jb.com.br)
Por Tâmara Freire - A escritora Marina Colasanti morreu nesta terça-feira (28), aos 87 anos. A causa da morte não foi divulgada, mas ela já vinha com a saúde debilitada. O corpo da escritora será velado no salão nobre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na manhã de quarta-feira (29), em cerimônia restrita a parentes e amigos.
Era casada com o poeta Affonso Romano de Sant'Anna e deixa duas filhas.
Marina Colasanti escreveu mais de 70 livros adultos e infantojuvenis e recebeu diversos prêmios por suas produções, incluindo o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. No ano passado, foi homenageada como personalidade literária pelo Prêmio Jabuti.
Seu primeiro livro, Eu Sozinha, foi publicado em 1968. Em 2017, foi lançada sua última obra: Tudo Tem Princípio e Fim.
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Luchesi, ressaltou o caráter variado e "de altitude" da obra de Marina: "Foi mestra em todos os campos: no diálogo com a gravura, com a pintura, a poesia, o romance, a literatura infantil, as narrativas breves e as artes plásticas. O Brasil e a Itália perdem um de seus maiores nomes. E eu perco, certamente, uma das grandes e queridas amigas, no âmbito da literatura, e não apenas. Devo a Marina muitos passos que tomei, inspirações e partilhas culturais, poéticas.”
A Câmara Brasileira do Livro divulgou nota de pesar, solidarizando-se com a família, amigos e leitores de Marina Colasanti, "uma das maiores referências da literatura brasileira". A nota lembra que a escritora recebeu nove estatuetas do Prêmio Jabuti, "que evidenciam sua grande contribuição para a cultura e a literatura nacional" e celebra sua vida e obra, "que são um presente eterno para a cultura brasileira e mundial".
Nascida na cidade de Asmara, então capital da Eritréia, Marina também viveu na Líbia e na Itália, antes de emigrar com a família para o Rio de Janeiro na década de 40. Marina fazia parte de uma família de escritores e artistas e estudou na Escola Nacional de Belas Artes. Além de escrever, também ilustrou muitas de suas obras.
Ela trabalhou no JORNAL DO BRASIL e na Editora Abril e continuou colaborando como colunista e cronista para diversos veículos ao longo de sua carreira. Também apresentou programas na extinta TVE e traduziu diversas obras italianas para o português.
Marina se declarava feminista e foi uma das integrantes do primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Muitos de seus livros refletem sobre o lugar da mulher na sociedade e trazem protagonistas femininas.
Em entrevista ao programa Trilha de Letras, da TV Brasil, em 2019, Marina falou sobre a paixão pelos livros, que nasceu na infância: "Os livros foram o meu colete salva-vidas. (...) Lemos muito! Em situações, às vezes, adversas, complicadas... E os livros eram uma farra! Companheiros de brinquedo, eram nossa fonte mais rica de imaginário".
Ela preferiu não se definir com apenas um estilo literário: "eu sou prosa e verso na mesma medida. Isso atravessa o olhar. Você tem um olhar poético ou não tem um olhar poético. É a maneira de aproximar-se do mundo. E eu acho que eu tenho os dois". (com Agência Brasil)
Texto e imagem reproduzidos do site: www jb com br/cadernob
domingo, 12 de janeiro de 2025
Ler ainda é a solução
Parte de artigo compartilhado do site EVIDENCIE-SE, de 7 de janeiro de 2025
Ler ainda é a solução: como a leitura pode estimular o pensamento crítico e a criatividade
O Brasil enfrenta um cenário preocupante em relação ao hábito da leitura. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2024, realizada pela Fundação Itaú e pelo Datafolha, mais da metade dos brasileiros não leem livros. Além disso, o estudo aponta que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos anos. A Bíblia é citada na pesquisa como a obra mais lida, mas a diversidade de leituras, que estimula a formação do pensamento crítico e a ampliação de horizontes, está em declínio. A mudança desse cenário depende da renovação das formas de incentivar a leitura, afirmam especialistas. Conversamos com duas educadoras experientes para reunir algumas dicas e sugestões para quem deseja estimular o hábito da leitura nas crianças e adolescentes, de preferência fora das telas dos tablets e celulares.
O impacto cognitivo da leitura
Luciana Gomes, diretora institucional do Ensino Fundamental I do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, destaca a importância de cultivar o hábito da leitura desde a infância: “A leitura é essencial para a formação da cidadania e para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Ler também estimula a criatividade, a interpretação e a capacidade crítica, desde a infância, além de ampliar o vocabulário e melhorar a expressão escrita.”
Para Luciana, a leitura oferece um dos mais importantes exercícios para o cérebro. “Ela não só melhora o funcionamento da memória e da atenção como também fortalece a resolução de problemas. Além disso, a leitura amplia a visão de mundo do estudante, permitindo que ele se coloque no lugar do outro e desenvolva empatia”, afirma.
Estudos mostram que a leitura constante contribui diretamente para o aprimoramento de competências como o raciocínio lógico e a organização do pensamento. “Essas habilidades são fundamentais para o sucesso acadêmico e para o exercício da cidadania. Hoje, em tempos de informação acelerada, a capacidade de fazer conexões e analisar criticamente as informações é cada vez mais valorizada”, explica.
Além disso, a leitura pode ser um fator crucial para melhorar o desempenho nos diversos componentes escolares. Luciana Gomes ressalta que é possível observar a influência no desenvolvimento global dos estudantes que têm o hábito de ler e no dos que não têm. “Alunos que leem com regularidade demonstram mais facilidade em compreender textos, interpretar enunciados e construir argumentações consistentes”, afirma.
A leitura em tempos de streaming e novelas
Em uma era marcada pelo entretenimento digital e pelo consumo massivo de novelas, os hábitos culturais dos brasileiros vêm se transformando. A pesquisa Retratos da Leitura deste ano mostra que assistir a filmes no streaming é o segundo hábito cultural preferido do brasileiro, enquanto a busca por programas culturais presenciais tem sido prejudicada por fatores como a violência e o preço dos ingressos.
Maria Lucia Mastropasqua, diretora do Ensino Fundamental I e II do Colégio Visconde de Porto Seguro, observa que a popularização do conteúdo audiovisual pode, de fato, afetar a leitura, embora acredite que seja possível equilibrar as duas atividades. “A chave é integrar a leitura ao cotidiano das crianças e adolescentes de forma prazerosa e natural. Isso pode ser feito por meio de livros que se relacionem com os interesses deles, como adaptações literárias de filmes ou séries populares”, sugere.
Para estimular o hábito da leitura em casa, Maria Lucia recomenda que as famílias criem um ambiente favorável à leitura. “Isso significa ter livros ao alcance, dedicar um tempo específico para leitura e até mesmo compartilhar o prazer de ler juntos, criando um momento de conexão familiar”, afirma.
Como incentivar os jovens a ler mais?
As especialistas em educação sugerem algumas estratégias práticas para pais e educadores incentivarem a leitura entre as crianças e adolescentes:
Escolher livros que correspondam aos interesses dos jovens: Se seu filho adora mistério ou ficção científica, busque livros desses gêneros para motivá-lo.
Estabelecer uma rotina de leitura: Dedicar ao menos 20 minutos por dia para a leitura pode ajudar a criar o hábito.
Fomentar a troca de livros e experiências de leitura: Participar de clubes de leitura ou criar grupos com amigos para discutir livros pode aumentar o engajamento.
Incorporar a leitura em atividades cotidianas: Ler notícias, rótulos e até manuais pode ser uma forma de estimular o interesse por textos.
Aproveitar adaptações cinematográficas: Assistir a filmes e séries inspirados em livros pode ser uma excelente forma de aumentar o interesse pela leitura.
As educadoras também sugerem algumas dicas para engajar crianças e jovens na leitura:
Leitura compartilhada: Crie um momento de leitura em família ou com amigos para discutir as impressões sobre o livro lido.
Interesse pessoal: Busque obras que se conectem com os gostos e interesses específicos de cada um — seja por gênero (fantasia, mistério, aventura) ou por temas atuais (identidade, relações sociais etc.).
Desafios literários: Proponha uma meta de leitura, como “ler um livro por semana”. A leitura também pode ser uma parte divertida das férias.
Exploração de diversidade racial e cultural: O acervo infantil das obras voltadas para esses temas é vasto e fundamental para formar leitores conscientes, orgulhosos de suas raízes e respeitosos com as múltiplas culturas que formam o Brasil. Incentive os jovens a conhecer obras de autores negros, como Conceição Evaristo e Paulo Lins, que trazem representações poderosas da cultura e da luta do povo negro no Brasil.
Literatura urbana e contemporânea: Ruth Rocha é conhecida por sua escrita leve, divertida e engajada. Suas obras capturam o universo das crianças em meio ao dia a dia das cidades e das famílias modernas, tratando de temas como amizade, imaginação, questionamento de regras e valorização da diversidade. Autores como Clarice Lispector e Raduan Nassar podem ser uma excelente escolha para jovens que desejam se aprofundar em literatura psicológica e existencial.
Acesso ao conhecimento e cultura: Visitar livrarias e bibliotecas é uma atividade rica em benefícios que vai muito além da simples apreciação de livros. Esses espaços podem inspirar a descoberta de novas obras, proporcionar uma experiência sensorial única em um ambiente acolhedor, além de estimular a leitura e até contribuir para um momento de descompressão e desintoxicação digital...
Fonte: Colégio Visconde de Porto
Foto: Johnny McClung na Unsplash
Texto e imagem reproduzidos do site: evidencie-se com
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
Dalton Trevisan, morre aos 99 ano
Legenda imagem: Dalton Trevisan, o lendário vampiro de Curitiba, morre aos 99 ano
Texto compartilhado do site G1 GLOBO SP, de 10 de dezembro de 2024
'O Vampiro de Curitiba': quem foi Dalton Trevisan, vencedor dos prêmios Camões e Jabuti
Escritor morreu na segunda-feira (9), em Curitiba, aos 99 anos. Conhecido pela vida reservada, contista curitibano conquistou os maiores prêmios para autores em língua portuguesa.
Por Ederson Hising, g1 — São Paulo
Um dos maiores contistas do Brasil, o curitibano Dalton Trevisan morreu na segunda-feira (9), aos 99 anos. Avesso aos holofotes, "O Vampiro de Curitiba" manteve por décadas uma vida reservada na capital paranaense, onde escreveu cerca de 50 livros de contos, novelas e romances — e retratou a cidade e seus personagens.
"Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é. Dalton Trevisan faleceu hoje, 09 de dezembro de 2024, aos 99 anos", informou a publicação na página do autor, em referência ao seu apelido e célebre livro de contos "O Vampiro de Curitiba", de 1965.
Trevisan conquistou os maiores prêmios para autores em língua portuguesa, como o Camões, em 2012, e o Jabuti em quatro oportunidades: 1960, 1965, 1995 e 2011. O escritor também levou o Prêmio Machado de Assis de 2011, o mais importante da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.
A obra do curitibano foi traduzida para diversos idiomas, como o inglês, o espanhol e o italiano. Neste ano, ele fechou acordo com a editora Todavia para publicação da obra completa a partir de 2025, que marca o centenário do escritor.
"Em sua obra, [Dalton] explora as aventuras cotidianas das pessoas comuns de Curitiba, conforme vagam asfixiadas pelo desejo, se encontrando e se perdendo, em pequenos e comoventes retratos", afirmou a editora, ao comunicar a morte do contista.
Nascido em Curitiba, em 14 de junho de 1925, Dalton Trevisan era formado em Direito e chegou a a exercer a atividade. Ele começou a carreira literária com a novela "Sonata ao Luar", a qual renegava, e ganhou destaque nacional com "Novelas nada exemplares". Sua obra é conhecida por retratar o cotidiano de forma concisa, explorando as tramas psicológicas e os costumes urbanos.
Entre 1946 e 1948, ele editou a revista Joaquim, em homenagem aos "Joaquins brasileiros". A publicação contou com nomes como Mario de Andrade e divulgou poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade.
Dalton era avesso a conceder entrevistas desde os anos 1970 e levava uma vida reclusa na capital paranaense — poucas pessoas tinham acesso a ele. Em 2021, o escritor deixou de morar na casa que se tornou ponto turístico para interessados em literatura, na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros, no Alto da Glória.
A saída do local se deu por questões de segurança e também de saúde. Desde então, o contista morava em um apartamento, no Centro de Curitiba.
"Sua reclusão pública contrastava com a vivacidade de sua escrita, que permanece como um marco da literatura brasileira contemporânea. Dalton deixa um legado de rigor literário, criatividade e uma visão aguda e implacável sobre o ser humano", indicou a Secretaria de Cultura do Paraná.
De acordo com o comunicado, Trevisan desvendou como poucos as complexidades humanas e as angústias cotidianas da vida urbana. "Dalton retratou com crueza a solidão, os dilemas morais e as contradições da classe média, com um olhar atento para os excluídos e marginalizados", afirmou.
"O Vampiro de Curitiba criou uma obra enraizada na capital paranaense, elevando suas ruas e seus bairros a verdadeiros personagens. Livros como 'O Vampiro de Curitiba', 'A Polaquinha' e 'Cemitério de Elefantes' revelam uma Curitiba sombria, mas também lírica, onde a banalidade do cotidiano convive com dramas intensos", disse a secretaria.
Algumas obras de Dalton Trevisan:
Novelas nada Exemplares (1959)[8]
Cemitério de Elefantes (1964)
O Vampiro de Curitiba (1965)
Mistérios de Curitiba (1968)
A Guerra Conjugal (1969)
A Polaquinha (1985)
Macho não ganha flor (2006)
Quem tem medo de vampiro? (1998)
111 Ais (2000)
O beijo na nuca (2014)
Dalton Trevisan nos palcos e telas
O diretor e ator João Luiz Fiani se orgulha de ser o único autorizado a utilizar obras de Dalton Trevisan nos palcos de teatro, a exemplo de "O Beijo na Nuca". Em uma publicação em rede social, o diretor lamentou a morte do amigo.
"Nessa segunda 09/12 meu amigo Dalton Trevisan nos deixou! O maior contista de todos os tempos… ficam as lembranças dos nossos cafezinhos… dos nossos papos! Uma figura ímpar! Quantas histórias! Um gênio… Que me permitiu levar pro palco muitos de seus contos… só eu tinha autorização para montar no teatro sua obra! Um orgulho pra mim", disse.
Fiani relembrou que as obras de Trevisan falavam por ele. "Dalton não gostava de aparecer. Não dava entrevistas, não se deixava fotografar! Era incompreendido por isso… mas eu o entendia. Ele falava pelos seus contos! Falava pela sua obra! O irônico disso tudo é que ele foi embora aos 99 anos… pq ironia? Pq com certeza seria muito homenageado pelo seu centenário! E isso ele detestava. Qualquer reverência o irritava!", recordou.
A obra de Dalton Trevisan também ganhou as telas de cinema, como o filme de 1975 baseado em "A Guerra Conjugal", de 1969, que foi dirigido pelo diretor Joaquim Pedro de Andrade.
Um dos mais importantes narradores da ficção brasileira
O parecer da comissão da ABL que concedeu o prêmio Machado de Assis ao autor o classificou como "um dos mais importantes narradores da ficção brasileira contemporânea”.
Segundo o parecer, Trevisan é “portador de uma linguagem predominantemente interiorizante, porém sensível às movimentações sociais. Desde cedo, se afirmou, sobretudo na história curta, mais especificamente no conto. Trata-se de um contista personalíssimo navegando contra a corrente institucional do conto". Neste sentido, suas “Novelas nada exemplares” são exemplos desse esforço de abertura do gênero”.
A comissão destacou, também, “A faca no coração”, “A polaquinha”, “Crimes de Paixão", “O vampiro de Curitiba”, entre outras obras do autor curitibano.
Curitiba: 'província, cárcere e lar'
Em entrevista ao PodParaná, em agosto de 2022, a pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Raquel Illescas, que estuda o autor, afirmou que a obra de Dalton é marcada em especial pela transgressão e pela relação crítica com Curitiba. O escritor chegou a definir a capital paranaense, onde vive até os dias atuais, como "província, cárcere e lar".
"Mesmo brincando com a ideia de que a crítica muitas vezes o criticou por tantas vezes, os mesmos nomes, as mesmas situações, as mesmas guerras entre casais curitibanos [...]. Ele [Dalton] retoma temáticas recorrentes, mas deixando muita coisa para o leitor pensar", ressaltou .
Texto reproduzido do site: g1 globo com/pop-arte
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
terça-feira, 26 de novembro de 2024
De volta às cavernas: um Brasil que não lê
Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 25 de nobembro de 2024
De volta às cavernas: um Brasil que não lê.
Pela primeira vez, brasileiros que não costumam ler livros são maioria, segundo pesquisa. Editorial do Estadão:
Brasileiros que não costumam ler um livro tornaram-se maioria no Brasil, informa a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que traz dados inquietantes sobre o perfil dos leitores no País. A pesquisa ouviu 5.504 pessoas em 208 municípios, entre abril e julho deste ano, e constatou que 53% das pessoas entrevistadas afirmam não ter lido um livro, mesmo incompleto, nos três meses anteriores à pergunta – prazo que, segundo os pesquisadores, permitiria classificá-las de leitoras. É a primeira vez, em seis edições da pesquisa, que o número de não leitores superou o de leitores. Nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores, queda registrada em todas as classes sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.
Não é novidade o baixo índice de leitura no Brasil, em geral aplacado de maneira circunstancial pelo habitual sucesso de eventos como a Bienal do Livro de São Paulo – a deste ano reuniu 722 mil pessoas no Distrito Anhembi, teve quatro dos dez dias com ingressos esgotados e um balanço geral de vendas acima das expectativas. Mas o retrato da pesquisa demonstra que a histórica pouca valorização do livro e da leitura, seja no ambiente escolar ou no familiar, chega a níveis perturbadores, agravados pelos hábitos relacionados à internet, às redes sociais e às restrições econômicas e sociais. Quase metade dos entrevistados declarou que não leu mais por falta de tempo – a atenção ao livro é uma dramática disputa contra a internet, o WhatsApp ou Telegram, as redes sociais e a televisão.
E um contexto igualmente grave: uma escola pública que, em muitos casos, tem dificuldade de criar ambiente propício à leitura. Basta ver a redução do número de pessoas que apontam a sala de aula como lugar de leitura. Em 2007, 25% citavam o espaço escolar, índice que caiu para 19% neste ano, efeito direto de uma realidade em que mais da metade das escolas de ensino básico no Brasil não tem uma biblioteca. Não existe mágica: a escola é decididamente o principal espaço para desenvolver o gosto pela leitura, como mostram algumas correlações diretas entre qualidade da rede de ensino e o ranking de leitores. Incluem-se aí Estados como Santa Catarina, Paraná, Goiás, Espírito Santo e Ceará, citados por recentes pesquisas pelos avanços no aprendizado. Mas convém cautela na análise mesmo nas regiões com indicadores positivos, como os leitores do Sul, pois os altos índices sulistas concentram pessoas mais velhas que, em sua maioria, são leitoras da Bíblia e outros livros religiosos.
O fato é que o Brasil ainda deve mais atenção aos projetos de formação de leitores, de bibliotecas comunitárias e, claro, de reforço da infraestrutura nas escolas públicas. Muitos desses projetos padecem de descontinuidade, carência de recursos e atratividade para jovens leitores. Mas é possível, sim, construir projetos e ferramentas que mostrem ao País que livros podem ser ótimos brinquedos para crianças e imprescindíveis ferramentas para o crescimento profissional e humano de jovens e adultos. Não custa lembrar, como escreveu o poeta Mário Quintana, que os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem.
Texto e imagem reproduzidos do blog otambosi blogspot com
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
domingo, 22 de setembro de 2024
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
Morre o escritor Márcio Souza
Legenda da foto: Escritor faleceu nesta segunda-feira (12). Souza se notabilizou por obras de ficção, ensaios e dramaturgia - (Crédito da foto: Alberto César Araújo/Acervo Amazônia Real).
Publicação compartilhada do site BRASIL DE FATO, de 13 de agosto de 2024
Morre o escritor Márcio Souza, autor de vasta obra sobre cultura e política amazônica
Márcio Souza foi escritor, ensaísta, dramaturgo, historiador, cineasta e gestor
Por Elaíze Farias Amazônia Real
Manaus (AM) – Autor de uma vasta obra literária sobre a cultura, história, economia e política da Amazônia, o escritor Márcio Souza morreu na madrugada de segunda-feira (12), aos 76 anos. Márcio foi um dos primeiros intelectuais da região Norte a repercutir nacionalmente com sua obra. Ele sempre se negou a ser descrito como “autor regional”. Para o escritor, a literatura feita no Norte era tão nacional quanto as obras produzidas em outras regiões, especialmente às do Sudeste.
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Márcio Souza foi escritor, ensaísta, dramaturgo, historiador, cineasta e gestor. Uma de suas obras mais conhecidas é Galvez, o imperador do Acre, que tornou-se um best-sellers, traduzida para mais de 17 idiomas. Outras obras proeminentes são A Resistível Ascenção do Boto Tucuxi e Mad Maria, que retratou como ocorreu a construção da estrada Madeira-Mamoré, em Rondônia, e que foi adaptada para uma minissérie da TV Globo.
Márcio era reconhecido por sua ironia e profunda erudição intelectual livre da linguagem academicista. Uma de obras de mais impacto é a tetratologia Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro, composta pelos romances Lealdade, Desordem, Revolta e Derrota [que ele não chegou a finalizar], em que faz um mergulho na história da Amazônia.
Como gestor, foi diretor da Fundação Nacional de Arte (Funarte) e ocupava a cadeira de número 25 na Academia Amazonense de Letras. Foi no teatro, contudo, que Márcio Souza mais se notabilizou. Ele é autor de clássicos como Dessana, Dessana, Folias do Látex e A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô-Bequê.
O diretor e ator de teatro Nonato Tavares adaptou algumas peças de Márcio para o teatro, como O Sapo, como ficou conhecida. Ele também fez cenografia para A Paixão de Ajuricaba e atuou como iluminador de Folias do Látex.
“Márcio foi reconhecido no mundo todo. É uma referência nossa, da América Latina. Na minha história pessoal também. Eu comecei fazendo teatro no Tesc, em 74, trabalhando com ele. Na época, ele vinha da área do cinema e embarcou no teatro. É uma grande perda para nós, filhos de Ajuricaba, povo da Amazônia”, diz Tavares.
O antropólogo Ademir Ramos destacou Márcio Souza como uma “âncora para a literatura amazonense, para a leitura crítica da Amazônia e para a história”. “Márcio vem com uma linguagem franca, crítica, demarca território. Ele é catalizador da nossa cultura popular, a cultura indígena, a política. Ele fez isso com A Resístível Ascenção do Boto Tucuxi, com a releitura da história e do aspecto ficcional em Galvez, o imperador do Acre. A crítica que ele faz para a Zona Franca de Manaus e a expansão do capitalismo com o livro Expressão Amazonense. O Márcio é tudo isso e muito mais”, disse.
Ademir lembrou que Márcio tomou para si a questão indígena, quando ainda pouco se abordava essa pauta na literatura amazônica. Foi um dos primeiros a atuar no movimento indigenista. “Ele ajudou organização do movimento indígena através do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do jornal Porantim. O Márcio é uma representação local, nacional e internacional. Deixa uma lacuna imprensa pra nós”, afirmou.
Marcos Frederico Kruger, poeta, professor de literatura da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e estudioso das obras de Márcio Souza, descreveu o escritor como “o grande narrador da Amazônia” e referência do teatro indígena.
“Além de ser um grande nome da literatura, ele também foi um historiador e foi um expert em cinema e teatro. É uma grande perda para o Brasil”
O velório de Márcio Souza começa às 17horas no Centro Cultural Palácio Rio Negro desta segunda-feira (12). O enterro será nesta terça, às 15h, no Cemitério São João Batista.
Texto e imagem reproduzidos do site: www brasildefato com br
terça-feira, 9 de julho de 2024
Você é um acumulador compulsivo de livros?
VOCÊ É UM ACUMULADOR COMPULSIVO DE LIVROS?
Thiago Ferreira.
domingo, 7 de abril de 2024
“Os livros nos tornam mais humanos” (Michel Desmurget)
Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 5 de abril de 2024
“Os livros nos tornam mais humanos”, diz o neurocientista Michel Desmurget.
Um dos maiores críticos da dependência de telas e meios eletrônicos na atualidade tem um antídoto para preservar a inteligência e a saúde mental: ler mais. Entrevista a Diogo Sponchiado, da Veja:
Primeiro, o diagnóstico, depois, o tratamento. Sob essa lógica, o pesquisador francês Michel Desmurget descortina as raízes da queda no desempenho intelectual e o aumento de problemas emocionais entre os mais jovens. Seu exame, baseado em evidências científicas, deu origem ao best-seller internacional cujo título entrega, sem medir palavras, a visão do autor: A Fábrica de Cretinos Digitais. Agora, o neurocientista, que está à frente do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, oferece o remédio para evitar ou reverter os males causados pela onipresença e dependência de telas, games, redes sociais e companhia: a leitura. Em Faça-os Ler!, publicado pela editora Vestígio, ele reúne uma avalanche de estudos para mostrar que esse hábito — sobretudo quando cultivado por prazer, fora das obrigações escolares — tem sido corroído pela vida virtual, numa troca que faz crianças e adolescentes perderem as vantagens únicas oferecidas por livros e revistas. Em entrevista a VEJA, Desmurget elucida os benefícios mentais e sociais capazes de influenciar os rumos da humanidade.
Em seu novo livro, o senhor denuncia uma redução gradual e perigosa nos níveis de leitura em escala global. Os meios eletrônicos são os culpados? Com certeza. Numerosos estudos confirmam que nos últimos cinquenta anos o tempo de leitura diminuiu drasticamente, e isso está relacionado ao aumento no tempo dedicado às telas. As horas que nossos filhos destinam ao entretenimento digital têm de ser roubadas de algum lugar, de modo que as telas consomem hoje quase todo o período antes reservado à leitura. E, como esperado, à medida que os mais novos leem menos, cai também sua proficiência na leitura. No último meio século, a maioria dos países ocidentais registrou um declínio nas competências linguísticas e no desempenho de leitura entre os jovens.
Mas eles também leem no celular ou no computador, não? As pessoas dizem que as crianças gostam de ler. Só que, no fim das contas, elas não estão lendo. Preferem jogar videogame ou assistir a séries ou desenhos animados. Também nos dizem que nunca leram tanto desde o advento da internet, mas isso não é verdade. O tempo de tela dedicado à leitura não excede 2% a 3% do período total dedicado aos meios eletrônicos, dependendo da idade. Fora que o conteúdo é pobre demais do ponto de vista linguístico para oferecer um efeito benéfico. A maioria dos estudos mostra que o tempo gasto em blogs e redes sociais impacta negativamente as habilidades com o idioma e o desempenho acadêmico.
Desde a publicação de A Fábrica de Cretinos Digitais, em 2019, acredita que a sociedade está mais consciente dos riscos de tanta tela? Sim, uma consciência coletiva está emergindo. A situação atual reflete a trajetória de questões de saúde pública anteriores, como o tabagismo, o uso de pesticidas e o aquecimento global. Inicialmente, há negação. Depois, uma espécie de minimização para retardar a sensibilização da sociedade. Contudo, os fatos não podem ser escondidos sob o verniz do marketing e do lobby. Chegamos a esse ponto em relação às telas. A evidência ultrapassou o domínio das investigações científicas e permeia as observações cotidianas. O excesso de telas está por trás de uma proliferação de problemas relacionados a linguagem, atenção, memória e impulsividade, levando a um declínio na capacidade intelectual de nossos filhos. Os últimos estudos do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) reforçam essa preocupação. Surpreendentemente, as empresas responsáveis pelas redes sociais continuam escalando seus esforços de lobby. A Meta, que controla Facebook e Instagram, nos serve como um ótimo exemplo. Documentos internos recentemente expostos revelam que a companhia sabia dos efeitos nocivos de seus produtos. E 41 estados americanos estão levando o caso aos tribunais sob a acusação de que eles causam “danos significativos à saúde física e mental”.
Se continuarmos a perder leitores nesse ritmo, como vislumbra o futuro da humanidade? É claro que podemos viver e encontrar a felicidade sem ler. No entanto, uma vez que se aceita esse princípio, surge a questão: o que perdemos quando não lemos? A resposta é simples: perdemos uma parte essencial daquilo que nos torna humanos. Não é por acaso que os livros e a linguagem têm sido consistentemente alvos das ditaduras mais implacáveis. Os nazistas queimaram mais de 100 milhões de livros e, como bem demonstra o acadêmico Victor Klemperer, embarcaram em um processo de empobrecimento linguístico semelhante ao descrito por George Orwell em seu romance 1984. Em Minha Luta, Hitler retrata a literatura como um veneno para as pessoas. A melhor ilustração de como seria um mundo sem leitura é, a meu ver, fornecida por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo. Nele, o autor descreve uma massa voluntária de técnicos devotados, moldados para atender às necessidades econômicas, alimentados à força por entretenimento estúpido e contentes com a servidão que mal podem perceber. Em contraste a eles, Huxley descreve uma pequena elite equipada com as ferramentas linguísticas e culturais necessárias ao pensamento. Encontramos a mesma ideia no romance Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. De um lado, está o bombeiro Montag, cansado de queimar livros, refletindo sobre o mundo e a sociedade. Do outro, sua esposa Mildred, viciada em TV e em drogas psicotrópicas. Ler é o antídoto para Mildred. É o caminho para a emancipação.
Por que o senhor defende de forma veemente a necessidade de estimularmos o hábito de ler em família desde cedo? A leitura não é inata para o ser humano. É um legado transmitido às crianças pelo seu ambiente familiar. Em primeiro lugar, porque é a família que estabelece a identidade de meninos e meninas como leitores ao demonstrar a importância dos livros. Isso envolve ler histórias com frequência para os mais novos, levá-los a bibliotecas, modelar esse comportamento desde cedo. Em segundo lugar, a família equipa a criança com os pré-requisitos para o aprendizado. E, nesse sentido, é crucial entender que a linguagem escrita é mais rica e complexa que a falada. Estudos revelam que há maior riqueza verbal nos álbuns ilustrados pré-escolares do que em qualquer conversa, desenho ou programa de TV infantil. Daí a importância da leitura compartilhada entre pais e filhos. Ela deve começar cedo — entre 3 e 6 meses de vida, segundo pesquisas — e continuar pelo maior tempo possível. Muitos pais deixam de fazer isso quando percebem que os filhos já começam a ler de forma independente. Mas é um erro porque, nesse momento, a criança não está aprendendo a ler de fato, e sim a decodificar o que está escrito. Ler não é só decodificar. Exige compreensão. Quando a atividade é feita em família, ajudamos os mais novos a desenvolver as competências para ler com autonomia, a lidar com textos mais complexos e, portanto, mais enriquecedores, e a preservar a alegria da leitura. Não podemos esquecer que, nesse início, ler exige esforço e o prazer nem sempre é imediato. E, sem prazer, não haverá leitor. Por fim, os estudos mostram que as escolas não conseguem cumprir esse papel tão bem como as famílias. Não quero dizer que os professores sejam incapazes ou não possam ler histórias. Mas eles têm um tempo limitado para essas atividades, geralmente feitas em grupo. Nesse aspecto, a família proporciona um ambiente insubstituível.
Muitos adultos tentam estabelecer ou resgatar o hábito de leitura, mas falham e abandonam a empreitada. Que conselho dar a eles? Perseverem. Reduzam o tempo de uso recreativo das telas, que consomem parte significativa de nossas vidas, e tentem incorporar a leitura no dia a dia. Sugiro, por exemplo, reservar de vinte a trinta minutos à noite, antes ou depois do jantar, o que pode ser feito com as crianças, no modo “Agora estamos lendo”. Porém, é fato que muitas pessoas cresceram sem ler o suficiente, deixando de absorver a linguagem mais complexa e diversa que caracteriza os livros. Esses são casos mais desafiadores, porque exigem que o sujeito se familiarize com os livros. Isso leva tempo! E é melhor começar com livros não tão exigentes, tendo ao lado um dicionário para checar palavras cujo desconhecimento possa dificultar a compreensão. Em suma, começar a ler tarde na vida não é impossível, mas é mais difícil do que quando essa habilidade é desenvolvida gradualmente ao longo do tempo.
Seu livro enfatiza o poder da ficção escrita. Por que contos, novelas e romances são tão especiais para o nosso desenvolvimento e bem-estar psíquico e social? As obras escritas concentram, para começar, uma maior abundância em termos de linguagem e conhecimentos gerais quando as comparamos a filmes, séries, programas de TV… A beleza da leitura é que absorvemos tamanha riqueza até incidentalmente, mesmo sem perceber. Quando se trata de sucesso acadêmico e capacidade intelectual, não há substituto para os livros. Eles têm uma influência positiva e documentada no QI, na criatividade, nas habilidades escritas e orais. Acontece que os livros de ficção também impactam nossas habilidades sociais e emocionais. Nenhum outro meio permite acesso tão direto e profundo aos pensamentos e sentimentos dos personagens. Entramos na cabeça deles e, mais do que isso, podemos vivenciar aquelas emoções. Pesquisas indicam que as mesmas redes cerebrais são ativadas quando essas sensações são experimentadas por meio da leitura ou evocadas por eventos da vida real. São características que promovem a empatia, a capacidade de compreender os outros e a si mesmo. Os livros de ficção nos tornam literalmente mais humanos.
Livros de papel, em áudio, digitais… Os novos formatos se equivalem ao tradicional quando pensamos na captação do conteúdo? Existem inúmeros estudos que compararam o grau de compreensão e memorização de um enunciado apresentado em diferentes meios: papel, eletrônico e áudio. Os resultados revelam duas coisas. Quando o trecho é simples, não há diferença entre eles. Mas, quando ele é complexo, emerge a superioridade do papel. No formato impresso, conseguimos nos concentrar melhor, esclarecer mais facilmente mal-entendidos e, diante daquela unidade espacial, navegar dentro do texto, o que repercute na hora de recordar elementos e fazer uma representação mental do que foi escrito. O cérebro se orienta melhor no livro físico do que numa estrutura virtual. Isso não quer dizer que os outros meios devam ser banidos. É preferível que crianças ouçam audiobooks ou leiam livros digitais do que desperdicem anos decisivos na Netflix, no TikTok ou no videogame. É como escreveu Umberto Eco: “O livro é como a colher, o martelo, a roda ou o cinzel. Depois de inventá-los, você não poderá fazer nada melhor”.
Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com
domingo, 24 de março de 2024
Fundador da Livraria Cultura, morre aos 83 anos
Legenda da foto: Pedro Herz, fundador da Livraria Cultura, em foto de 2017 | Crédito da foto: © Editora Planeta
Publicação compartilhada do site PUBLISHNEWS, de 19 de março de 2024
Pedro Herz, fundador da Livraria Cultura, morre aos 83 anos
Por Guilherme Sobota
Velório será no Cemitério Israelita do Butantã na quarta-feira (20), às 10h
O livreiro e fundador da Livraria Cultura, Pedro Herz, morreu nesta terça-feira (19), aos 83 anos, em São Paulo, após um ataque cardíaco. O velório será no Cemitério Israelita do Butantã na quarta-feira (20), às 10h.
A morte foi anunciada por uma nota da Livraria Cultura nesta terça. "Pedro Herz foi um visionário no campo editorial, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento e promoção da literatura em nosso país. Sua paixão pela leitura e seu compromisso em tornar os livros acessíveis a todos deixaram uma marca indelével na comunidade literária e além", diz o texto. "Sua ausência será profundamente sentida, mas seu legado perdurará através das páginas dos livros que tanto amou".
Pedro Herz nasceu em São Paulo em 1940, se formou em administração e viajou pela Europa, e viu a mãe, Eva Herz, se iniciar no mundo dos livros com uma Biblioteca Circulante, serviço de circulação de livros criado ainda nos anos 1940. Em 1969, mãe e filho decidiram fazer sociedade para fundar a Livraria Cultura, que primeiro se estabeleceu em lojas menores em São Paulo até chegar ao Conjunto Nacional.
As primeiras funções de Herz no mercado diziam respeito à negociação com editoras como Cultrix, Perspectiva, Zahar e Brasiliense, e depois ele também passou a importar livros para vender na loja.
Pedro Herz assumiu a Livraria Cultura em 2001, com a morte de Eva, e iniciou o período de maior expansão da rede: a Cultura chegou a ter 18 lojas pelo Brasil, comprou a operação brasileira da Fnac e a Estante Virtual, recebeu prêmios de reconhecimento de marca e arquitetura e chegou a ser eternizada em uma crônica de José Saramago. Em 2010, Pedro Herz recebeu a Ordem do Ipiranga, a maior honraria do Estado de São Paulo. Desde 2007 dividindo as funções de administração com os filhos, ele se afastou do dia a dia da gestão da Livraria em 2011, quando Sergio Herz já tinha o cargo de CEO da empresa. Na época, Pedro ainda liderava um conselho de administração da Livraria.
Em 2015, Pedro Herz passou a apresentar um bate-papo com autores, editores e ilustradores, no programa de televisão Arte 1 com texto. Anos depois, o programa migrou para o canal do Youtube da Livraria Cultura, com o nome Sala de Visita.
Em 2017, Pedro Herz lançou um livro de memórias, O livreiro (Planeta), em que conta a história da família e casos da Livraria, de perseguições sofridas na ditadura militar e também lançamentos curiosos, como de Vinicius de Moraes.
A Livraria Cultura atravessa uma crise severa desde 2018, quando entrou com um pedido de recuperação judicial. Atualmente, a empresa aguarda o julgamento de recursos no STJ que devem definir a situação sobre sua falência.
Em fevereiro, uma decisão do Tribunal negou um recurso da Livraria e autorizou a continuidade de uma ordem de despejo sobre o imóvel no Conjunto Nacional.
Veja nota da Livraria Cultura:
"É com profundo pesar que a família Herz comunica o falecimento do renomado livreiro Pedro Herz aos 83 anos, na madrugada de hoje 19/03/2024.
Pedro Herz foi um visionário no campo editorial, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento e promoção da literatura em nosso país. Sua paixão pela leitura e seu compromisso em tornar os livros acessíveis a todos deixaram uma marca indelével na comunidade literária e além.
Sua ausência será profundamente sentida, mas seu legado perdurará através das páginas dos livros que tanto amou.
Neste momento de luto, a família agradece o carinho e condolências.
Velório será no Cemitério Israelita do Butantã, 20/03/24 a partir das 10hs, enterro às 12h".
Texto, imagem e vídeo reproduzidos do site: www publishnews com br
sábado, 27 de janeiro de 2024
Quem gosta de sebos? E quem gosta de catar livros...
Artigo compartilhado do site CARLOS ROMERO.
Res derelicta
Quem gosta de sebos? E quem gosta de catar livros no lixo?
Por Neide Medeiros Santos.
Conheci um leitor compulsivo que não podia ver livros no lixo, ia logo examinando e às vezes levava para casa relíquias abandonadas. Certo dia encontrou uma Bíblia traduzida pelo português João Ferreira de Almeida no lixo de uma escola católica, fruto talvez de uma biblioteca escolar, e guardou com muito carinho o exemplar descartado. A tradução de João Ferreira de Almeida é considerada um marco da história da Bíblia, foi a primeira tradução do Novo Testamento a partir das línguas originais e o livro estava jogado no lixo. Quanto desperdício!
Quem se lembra do antigo costume de escrever poemas dos poetas preferidos em cadernos? Só gente bem antiga se lembra disso. A professora Ana Lúcia Teixeira de Carvalho, em entrevista concedida à equipe do projeto “Redescobrindo as trilhas de Augusto dos Anjos”, contou que seu pai deu à noiva ( sua mãe) um caderno com poemas de Augusto dos Anjos, tudo escrito à mão.
Pois bem, voltemos ao leitor maníaco por livros. Não faz muito tempo, nosso amigo resgatou entre metralhas de uma construção um caderno de alguma moça sonhadora e romântica com poemas de Augusto dos Anjos,
Raul Machado, Américo Falcão, Anayde Beiriz. Os poetas mortos estavam todos vivos naquele caderno com letra manuscrita, caligrafia de moça caprichosa. O caderninho ia virar papel reciclado.
A historiadora Lúcia Guerra conseguiu reaver uma 1ª edição do livro “A Paraíba e seus problemas”, de José Américo de Almeida. O livro estava em um depósito de lixo da maçonaria Branca Dias, na Avenida General Osório. Só não teve um triste fim porque uma pesquisadora, ciosa do valor de livros antigos, recolheu-o e ofertou à Fundação Casa de José Américo.
Nos arquivos do filósofo Walter Benjamin, foi encontrado o desenho de Angelus Novus, de Paul Klee. Há um detalhe sobre o destino desse trabalho de Klee. Antes de deixar a capital francesa, onde se encontrava refugiado durante a 2ª. Guerra Mundial, Benjamin retirou o desenho da moldura, colocou-o numa mala junto com seus escritos, queria salvá-lo da catástrofe. Coube a Adorno ser depositário dessa preciosidade que hoje se encontra no Museu de Israel. Para chegar a esse museu, um longo caminho foi percorrido. A fúria contra os judeus pelos nazistas não poupava livros nem obras de arte.
Certamente há muitas histórias de resgate de preciosidades literárias e artísticas colhidas em lixo, depósitos abandonados, bibliotecas desativadas, metralhas de construção e nos arquivos pessoais.
Quem quiser saber o significado da expressão latina RES DELERICTA consulte um dicionário de latim ou pergunte ao professor Milton Marques Júnior, versado na língua latina.
O leitor compulsivo, referido no início deste texto, foi aluno do professor Paulo Bezerril na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba e lembrava que este professor gostava de repetir essa expressão em suas aulas de Direito Civil.
Texto e imagem reproduzidos do site: carlosromero com br
terça-feira, 16 de janeiro de 2024
Do Facebook/A Vida Breve
Post compartilhado do Facebook/A Vida Breve, de 14 de janeiro de 2024
“O que transforma este mundo é o conhecimento. Percebes o que quero dizer? Nada mais pode mudar coisa algum neste mundo. Apenas o conhecimento é capaz de transformar o mundo, ao mesmo tempo que o deixa exactamente como é. Quando olhas para o mundo com conhecimento, percebes que as coisas são imutáveis e, ao mesmo tempo, estão em constante transformação. Podes perguntar que bem isso nos faz. Vamos considerar a questão deste modo: o ser humano possui a arma do conhecimento para tornar a vida suportável. Aos animais, essas coisas não são necessárias. Os animais não precisam de conhecimento ou de qualquer coisa do género para tornar a vida suportável. Porém, os seres humanos precisam de algo e, com o conhecimento, podem fazer da própria intolerabilidade da vida uma arma, embora, ao mesmo tempo, essa intolerabilidade não seja minimamente reduzida. E é tudo.”
— YUKIO MISHIMA, pseudónimo de Kimitake Hiraoka (14 de Janeiro de 1925 — 25 de Novembro de 1970), romancista, poeta, dramaturgo, actor, realizador e nacionalista japonês, em excerto, que traduzimos, de “The Temple of the Golden Pavilion“ (1959).
Foto: O escritor, com os livros e o gato.
sábado, 25 de novembro de 2023
Resenha do Livro: "Napoleão...", de Adam Zamoyski
sábado, 11 de novembro de 2023
Um Escritor na Biblioteca | Ruy Castro
Publicação compartilhada do site Biblioteca Pública do Paraná, em outubro de 2023
Um Escritor na Biblioteca | Ruy Castro
Da Redação
Além de ser um dos maiores biógrafos do país, Ruy Castro também é um aficionado por livros. No dia em que a Biblioteca Pública do Paraná completou 160 anos (7 de março), o escritor contou, entre outras coisas, como formou — ao longo de seis décadas — seu próprio acervo, hoje com mais de 25 mil títulos.
Castro abriu a temporada 2017 do projeto Um Escritor na Biblioteca e foi o primeiro autor a falar no novo auditório Paul Garfunkel, totalmente reformado, assim como outros ambientes da Biblioteca. No bate-papo mediado pelo jornalista Omar Godoy, ressaltou que, acima de qualquer atividade, é um leitor: “Deixaria de ser escritor tranquilamente para ser apenas leitor, se pudesse”. O primeiro livro de sua longa trajetória de leitor foi Alice no país das maravilhas, presente que recebeu aos 5 anos. Mas não havia livros na casa onde nasceu. Os seus pais, no entanto, eram compulsivos leitores de jornais e revistas — hábito que ele levou adiante por toda a vida.
O depoimento de Ruy Castro foi repleto de frases inspiradas, misturando informação com senso de humor — o que também acontece em sua crônica veiculada quatro vezes por semana na Folha de S.Paulo ou nas biografias que publicou, entre as quais O anjo pornográfico (1992), sobre a trajetória de Nelson Rodrigues, e Estrela solitária (1995), a respeito do percurso de Garrincha. Ao falar sobre a complexidade que é fazer uma mudança para quem acumula 25 mil livros, disparou: “É difícil transportar uma estante. Então eu andei fazendo isso no decorrer da vida, plantando estantes em todas as casas e apartamentos que morei”.
Castro se definiu como um sujeito que veio ao mundo para impedir que as palavras morram. “Tento ser o mais claro, o mais objetivo, o mais simples possível ao escrever, mas às vezes me dou o luxo de colocar uma expressão de 1920, de propósito. Só para receber um comentário azedo do leitor: ‘Pô, esse cara precisa se reciclar, nem o meu avô usa mais essa palavra’. Mas eu faço de propósito mesmo.”
O mineiro de Caratinga radicado no Rio de Janeiro também comentou sobre as suas temporadas em redações de jornal e como foi pesquisar e escrever alguns de seus livros, entre os quais Chega de saudade: a história e as histórias da Bossa Nova (1990).
Grande leitor
Certa vez me perguntaram: “Ruy, você faz livros e trabalhou a vida inteira como jornalista, sente-se mais jornalista ou escritor?”. Respondi que as duas coisas, dependendo do instrumento que eu estou tocando no momento. Mas trocaria essas duas atividades por uma outra, muito mais importante para mim, que é ser leitor. Eu deixaria de ser escritor tranquilamente para ser apenas leitor, se pudesse. Hoje mesmo dei um pulo num sebo aqui em Curitiba, o Fígaro, e o Paulo, dono do local, pediu que eu autografasse um livro para a loja. Escrevi o seguinte: “Quando morrer, não quero ir pro céu, quero vir pro Fígaro”. E é verdade, após a morte, eu iria para um sebo, para uma biblioteca ou para qualquer lugar que tivesse livros, jornais ou até mesmo bula de remédio para ler.
Primeiros livros
O primeiro livro que ganhei na vida e li foi Alice no país das maravilhas, uma edição da Companhia Editora Nacional, com tradução assinada pelo Monteiro Lobato. Ganhei esse livro no dia do meu aniversário de 5 anos. Já sabia ler, tinha aprendido com a minha mãe, lendo jornais. Por acaso, lendo a coluna do Nelson Rodrigues, “A vida como ela é”. Então aos 5 anos eu era capaz de ganhar um livro de presente, ler esse livro e gostar tanto que, dali uma semana ou duas, pedi ao meu pai para comprar um outro título. Ele me levou numa livraria e comprei Tarzan, o filho das selvas, uma edição linda, também da Companhia Editora Nacional, que era uma editora muito popular na época. Isso foi exatamente há 64 anos. Desde então eu não evoluí nada, continuo lendo, acumulando e me cercando de livros.
Plantador de estantes
Já morei em muitas cidades, em muitos apartamentos e muitas casas. Sempre que mudo para um lugar novo, as estantes da casa anterior não se encaixam, porque uma estante é feita, geralmente, para um lugar específico. É difícil transportar uma estante. Então eu andei fazendo isso no decorrer da vida, plantando estantes em todas as casas e apartamentos que morei. Agora, como eu estou batendo todos os meus recordes, morando no mesmo lugar há 25 anos, e de onde espero sair só para o [cemitério] São João Batista, tenho mais possibilidade de me organizar em termos de possuidor de livros.
Biblioteca sobre o Rio
Posso dizer, não sei se com orgulho ou com vergonha, que no meu apartamento tenho 11 estantes, algumas delas maiores do que essa tela [do auditório]. Só de livros sobre o Rio de Janeiro, tenho 5 mil, de vários séculos. Tenho muito livro sobre cinema, sobre música popular, de muitos países e épocas, muitos livros de referência, dicionário de baianês, de filosofia, etc. Tenho dicionários lindos, do século XIX, contendo palavras que não se usam mais, dicioná- rios de francês com expressões que nem na França mais se usam. Tenho muita pena de me desfazer desse tipo de livro. Afinal, por que vou me desfazer? Parece um crime me livrar de um livro porque ele contém palavras que não se usam mais.
As palavras não morrem
Às vezes eu até acredito que vim ao mundo para impedir que as palavras morram. Faço quatro vezes por semana uma coluna na página 2 da Folha de S. Paulo, em que tento ser o mais claro, o mais objetivo, o mais simples possível ao escrever, mas às vezes me dou o luxo de colocar uma expressão de 1920, de propósito. Só para receber um comentário azedo do leitor: “Pô, esse cara precisa se reciclar, nem o meu avô usa mais essa palavra”. Mas eu faço de propósito mesmo. A gente deve lutar para que as palavras não morram.
Família
Na casa dos meus pais não tinha um livro sequer. Zero. Talvez tivesse A nossa vida sexual, do doutor Fritz Kahn, que era um livro muito conhecido na época. Mas não havia livros mesmo. Meu pai e minha mãe simplesmente não tinham interesse em livros. Porém, eram ávidos leitores de jornais e revistas. Assinavam diariamente o jornal do Assis Chateaubriand e o Correio da Manhã. E esses dois jornais chegavam pelo correio todo dia. Eles também compravam na banca a Última hora, do Samuel Wainer, até porque a minha mãe gostava de ler o Nelson Rodrigues. Meu pai, que era torcedor do Carlos Lacerda, comprava a Tribuna da Imprensa. Então eram quatro jornais todos os dias. Nos fins de semana, compravam outros impressos, como o Jornal do Brasil e a revista O Cruzeiro. Uma quantidade enorme de jornais e revistas entrava diariamente em casa, era uma montanha de papel. E eles não jogavam nada fora. Os jornais eram lidos e estocados, empilhados nos quartos dos fundos. Não sei porque faziam isso, nunca cheguei a conversar sobre esse assunto com eles. Mas era como se fosse assim: “aqui não se joga palavra fora”.
Leitor de jornais
Um dia eu aprendi a ler e descobri, maravilhado, no quarto dos fundos, aquelas pilhas de jornais e revistas. Comecei a ler jornais anteriores a minha data de nascimento. Nasci em 1948 e estava lendo jornais de 1945, 1946, 1947. Mas para mim era como se eu estivesse lendo o jornal do dia. E, de repente, descobri que essa história de não jogar jornal e revista fora era coisa de família. Um primo meu, que morava na Lapa, também tinha montanhas de Correio da Manhã empilhados, com aquele cheiro de mofo e poeira. Ele morava na Lapa, que só tinha prédio velho. E a minha tia, mãe desse meu primo, era asmática em último grau. Ou seja, em vez de usar aquela bombinha que as pessoas compram na farmácia, ela usava uma bomba de barbeiro para conseguir respirar. Naturalmente essa mania de não jogar jornal fora se transferiu para mim também. Deixo os jornais se acumularem uma semana. Aí, na hora do futebol, do jogo do Flamengo, pego a pilha e boto na mesa em frente à televisão. Como não suporto ver o Flamengo ser atacado, fico olhando para o jornal, vendo o que me interessa. Quando a bola está com o Flamengo, olho o jogo, mas aí o outro time recupera a bola e eu volto a ver os jornais. Recorto o que me interessa e jogo fora o resto.
Biblioteca Nacional
Durante alguns anos, uns 20 e tantos, tive um casamento maravilhoso com a Biblioteca Nacional do Rio. Alguns dos meus livros, como as biografias do Nelson Rodrigues e do Garrincha, foram feitos com a ajuda da Biblioteca Nacional. Eu passava meses e meses lendo coleções inteiras no microfilme. Algumas coleções não estavam microfilmadas e os exemplares só podiam ser manuseados por funcionários da biblioteca. Tive a honra de ter a possibilidade de acesso a esses exemplares. O funcionário da biblioteca trazia aquela encadernação maravilhosa em um carrinho e manuseava aquelas páginas. Ficava muito preocupado, porque, por exemplo, a coleção da Última Hora não estava ainda microfilmada. E isso com um jornal dos anos 1950 do século XX. Imagina só os impressos do século XIX ou XVII. Eu me sentia, na presença daquele objeto, como se estivesse em frente a um papiro egípcio. Tinha um respeito enorme por aquilo. Torcia para que microfilmassem tudo logo, para o conteúdo ser eternizado. Hoje eu vejo com enorme satisfação que praticamente toda a BN está digitalizada, com a possibilidade de acesso pela internet. Ou seja: esses exemplares estão salvos.
Convicção no jornalismo
A descoberta do jornal, e do seu funcionamento, foi uma coisa que sempre me fascinou. A primeira página de um jornal é um mosaico, o mundo inteiro está ali. Antigamente a paginação era muito mais desorganizada do que hoje. Os jornais hoje são paginados — a primeira página, principalmente — de uma maneira coerente. Mas nos anos 1960 era muito confuso, era um mosaico mesmo. Eu achava aquilo fascinante e desde o começo me interessei pelo jornal. Naquela época havia muitos filmes, principalmente americanos, que se passavam dentro de jornais, mostravam as redações. Então não era preciso eu ir em um jornal para saber como era a redação. Eu já tinha visto no cinema. Isso sempre me fascinou e de cara decidi que queira ser jornalista. Nunca pensei em outra coisa.
Correio da Manhã
Com o tempo decidi que queria ser jornalista do Correio da Manhã, que era o principal jornal do país naquela época. Um jornal fundado em 1901, com uma tradição liberal enorme e de grande importância na história da República. Um veículo que derrubou ministro, derrubou presidente, foi mantido proibido pelo Artur Bernardes durante anos, na década de 1920. E lá escreviam as pessoas que eu admirava, como o [Otto Maria] Carpeaux, o [Carlos Heitor] Cony e tantos outros. Então eu decidi que seria jornalista do Correio da Manhã e assim aconteceu. Em 1965, com 17 anos, escrevi uma carta para um jornalista do Correio dizendo que o admirava, me identificava com o que ele escrevia. Ele me respondeu, simpaticamente. Telefonei para o jornal, pedi para chamá-lo, ele veio ao telefone, falou comigo, me convidou para visitar a redação. Esse jornalista era José Lino Grünewald. A partir daí eu comecei a frequentar o Correio, inclusive cometendo a heresia de ser recebido pelo José Lino. Ele era editorialista e os repórteres eram proibidos de entrar na sala dos editorialistas. Eu chegava lá, batia à porta e conversávamos na sala dos editorialistas do Correio da Manhã. Além do José Lino, trabalhavam lá Franklin de Oliveira, Edmundo Moniz, Paulo de Castro, Nilton Rodrigues, Paulo Francis. Ou seja, só tinham os cobras lá dentro e eu ali, na maior naturalidade. Até que, em janeiro ou fevereiro de 1967, há exatamente 50 anos, o José Lino telefonou e me perguntou: “Você quer ser repórter do Correio da Manhã?”. Eu falei, “Quero, claro”. Foi assim que aconteceu.
Outros tempos
Naquela época tinha uma coisa espetacular que depois se perdeu. Você está na redação, é um repórter, quase um foca, e ao seu lado está um homem 30 anos mais velho, uma pessoa que você passou a vida inteira lendo e admirando. No meu caso, esse cara do meu lado era o Muniz Vianna, o maior crítico de cinema que o Brasil já teve, um homem que ensinou gerações inteiras sobre cinema. Na época ele fazia uma coluna diária de meia página sobre um filme. Então os jornalistas mais velhos iam aos jornais todo dia. O Franklin de Oliveira, por exemplo, era uma das grandes cabeças intelectuais do Brasil, lia em alemão, enfim, essas coisas impressionavam muito naquela época. Era amigo íntimo do Guimarães Rosa, um intelectual de alto peso. Foi quem inclusive criou a expressão “memória nacional”, em seu famoso livro Morte da memória nacional. O Franklin passava pela minha mesa e sempre me cumprimentava. Eu já era fã dele e nós conversávamos. Ou seja, você tinha essa convivência com os grandes nomes, porque os grandes nomes não se sentiam grandes nomes. Essa é a diferença. Eles conversavam com os focas, davam a maior confiança. Sempre me senti extremamente acolhido por eles, nunca fui esnobado. Praticamente com todos esses jornalistas a minha relação começou quando eles me dirigiram a palavra. O Paulo Francis, por exemplo. Lembro que estava sentado na minha mesinha do Correio da Manhã, isso deve ter sido em julho ou agosto de 1967, quando eu 8 Cândido | jornal da biblioteca pública do paraná Um escritor na biblioteca Um escritor na biblioteca vejo aquele cara parado do meu lado. Ele então pergunta: “Você que é o Ruy Castro?”. “Sou”, respondi. “Eu sou Paulo Francis”, ele disse. “Gostei muito do que você escreveu hoje no segundo caderno” (risos). Assim se deram as primeiras frases trocadas com o Paulo Francis.
Geração
Não sei realmente se a minha geração era blasé ou o quê, se éramos muito convencidos ou metidos a besta, mas não havia uma relação de subserviência entre nós e eles. Ou eles eram extremamente abertos e cordiais ou não se levavam tão a sério a ponto de nos darem tanta confiança. Lembro que poucos meses depois, em março de 1968, estava entrevistando o Tom Jobim, lá numa mesa do bar Veloso, hoje Garota de Ipanema. O Tom tinha chegado há poucos meses dos Estados Unidos, onde tinha gravado um disco com o Frank Sinatra. Em 1968 o Tom já era o Tom, já estava cansado de ser o Tom Jobim. E eu tô ali com 20 anos de idade recém-feitos, o Tom com 41 recém- -completados. Então o Tom começou a me falar: “Meu pai foi embora de casa, quando eu era muito garoto. Não o conheci muito bem, mas esses dias eu tive um sonho com ele. Aliás, não foi sonho. Ele estava no quarto. Meu pai morreu eu tinha 6 ou 7 anos. Mas ele apareceu para mim agora, semana passada, no pé da minha cama, e falou para mim assim: "Ô, Antônio Carlos, deixa de ser preguiçoso, para de pescar e vai trabalhar”. Estou ouvindo aquilo e penso: “Poxa, eu aqui conversando com o Antônio Carlos Jobim, que acabou de gravar um disco com Frank Sinatra”. Naquela época, se você batesse no liquidificador os Beatles e os Rolling Stones, dava meio copo de Frank Sinatra. E eu estava conversando com um cara que tinha acabado de gravar um disco com o Frank Sinatra, sendo ele próprio Antônio Carlos Jobim e eu, com menos de um ano de profissão, aos 20 anos de idade, achando naturalíssimo estar ali. Pensava comigo que ninguém estava me fazendo um favor. Eu tinha o direito de estar ali. E ainda tinha o direito de contar que Tom Jobim acabava de me dizer que conversa com os mortos.
Tom
Em janeiro ou fevereiro de 1988, fui entrevistar o Tom Jobim para a Playboy. Na verdade eu fui complementar uma entrevista que alguém já tinha feito com ele em Nova York, mas o jornalista não teve a coragem de fazer as perguntas que a Playboy gostava que se fizesse, ou seja, sobre a vida sexual do personagem. Como em todas as outras entrevistas que fiz para a Playboy, me preparei brutalmente para conversar com o Tom. Passei dias, semanas, lendo sobre o Tom. Fiz uma pauta com 200, 300 perguntas. E já fiz essas perguntas numa ordem que, praticamente, o leitor encontraria na entrevista. Era quase uma edição da entrevista na pauta. E a maneira de você fazer isso é começar com perguntas que o entrevistado vai gostar de responder. Boas perguntas, agradáveis, simpáticas, em que ele possa brilhar. E aí, quando ele já está bastante relaxado, pela 20ª ou 30ª pergunta, você entra com os assuntos que realmente interessam. Fiz isso com o Tom, gravei uma quantidade absurda de perguntas sobre a Bossa Nova, que eu sabia que não seriam usadas na edição final da Playboy. Fiquei com um material enorme.
Chega de saudade
Liguei para o Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e falei: “Tô aqui com um material maravilhoso de uma entrevista com o Tom”. Conhecia todas as pessoas da Bossa Nova, já tinha entrevistado o Vinicius (que na época já havia morrido), o Carlinhos Lira muitas vezes, conheci a Nara Leão, tinha uma intimidade, inclusive física, com os ambientes da Bossa Nova. Embora fosse muito jovem pra ter frequentado, por exemplo, o Beco das Garrafas, sabia onde tinha sido o território da Bossa, não era um mistério para mim. E tinha uma grande curiosidade sobre as pessoas que tinham feito a Bossa Nova. Tanto que eu falei para o Luiz: “Não é um livro exatamente sobre a Bossa Nova, não é uma coisa só para acadêmicos, análise de letras de músicas, essa coisa chata que vivem fazendo. Vou contar a história de como começou, como foi feito o movimento, quem eram aquelas pessoas, o que elas faziam, como se reuniam, como se comportavam, namoravam, se sabiam música, se não sabiam, de onde tiraram a ideia da Bossa Nova”. E o Luiz topou na hora. Talvez fosse o único editor do Brasil naquela época que reagiria dessa maneira, porque ninguém queria saber de Bossa Nova.
Método de trabalho
Naquela época não tinha como aprender sobre biografia ou livro de reconstituição histórica com ninguém. Eu não tinha com quem conversar, tive que ir aprendendo no decorrer do trabalho. Mas logo de cara descobri que não poderia fazer igual os fascículos da Editora Abril, que davam uma aula de História que o leitor não pediu para ter. Pensei: “Está errado isso”. Tenho que contar uma história sem fugir da História, mas dando o contexto da época e do espaço onde tudo aquilo aconteceu. E como fazer isso? Eu concluí que fazendo perguntas. Perguntando às pessoas sobre a vida delas, se tinham carro, se não tinham, se pagavam aluguel, que uísque tomavam, se não tomavam, se namoravam (naquele tempo não tinha motel nem nada, tinha que namorar na praia, o chamado sexo à milanesa). A chave era ir fazendo perguntas sobre a vida pessoal e ir encaixando essas informações na medida que elas coubessem, para dar um contexto em volta do assunto principal, que era a música.
Os mais importantes
Ao longo do processo, fui aprendendo algumas coisas. Fui conversar com o Tom logo de cara. E ele me deu um baile. Só respondeu o que queria e me deixou chupando o dedo. E aí eu pensei: “Tá errado isso”. Essas pessoas muito importantes, como o Tom, o João Gilberto e o Carlinhos Lira têm que ser as últimas a serem entrevistadas. Tenho que aprender tudo sobre eles primeiro, pra depois ir conversar, de modo que não fujam das perguntas. E comecei esse trabalho, que leva anos (o livro da Bossa Nova levou todo o ano de 1988, de 1989 e quase todo o ano de 1990). Então dá tempo de você aprender quase tudo sobre o assunto e, quando for conversar com as figuras mais importantes, apresentar uma realidade em que são obrigadas a falar “sim” ou “não”. E normalmente falam sim, porque se falarem não e eu souber que é sim, vou jogar outra realidade em cima deles.
Não basta ser jornalista
Eu achava que um livro como esse [Chega de saudade] seria uma grande reportagem, mas aí eu rapidamente me convenci de que não era. Não tem nada a ver. Não adianta você ser um ótimo repórter. Isso não te tornará um bom biógrafo. Porque a biografia é outra coisa. Se você for um repórter, jornalista, realmente vai ter facilidade em localizar fontes, marcar uma entrevista, se preparar para essa entrevista, pegar as informações da conversa e organizá-las de maneira coerente. Em tudo isso realmente a imprensa te ajuda. Mas parou aí. Você tem que ter uma chamada cultura geral, que um jornalista nem sempre jornal da biblioteca pública do paraná | Cândido 9 tem. Porque se você tiver que aprender do zero, tudo o que está contido numa biografia, você vai levar dez anos para fazer. Então é preciso partir de um conhecimento amplo de certas coisas.
Trabalho monumental
Um trabalho de biografia ou de reconstituição histórica é composto de milhões e milhões de partículas de informações que o jornalista não tem e não é obrigado a ter. Como diz o Elio Gaspari, “Jornalista não tem que saber nada, tem é que aprender”. Mas para fazer um livro, você já tem que saber muita coisa de antemão. No caso do Chega de saudade, tive a ideia de fazer em livro porque era um assunto que eu já sabia ser muito amplo, que ocuparia tanto espaço que não caberia numa série de matérias de jornal. O veículo, para fazer isso, seria o livro. No que comecei a fazer o Chega de saudade, descobri a diferença entre trabalhar para jornal e para livro. A diferença entre você nadar num lenço úmido ou se jogar no oceano atlântico. O livro é o Oceano Atlântico, o lenço úmido era o artigo de jornal ou de revista. Mas o fato de você ter o espaço de um livro, de poder nadar à vontade, não te permite usar as palavras de maneira irresponsável. Tem que ser tão conciso ao escrever um livro como seria ao escrever um artigo de jornal. Só que você poderia escrever muito mais coisas em um livro.
Contar uma história
Ao contrário de todos os livros de música popular feitos até então, que eram livros de análise de letra da MPB do ponto de vista sociológico, psicoló- gico, etc., o Chega de saudade não tinha nada disso. Tinha uma história. Não era um livro sobre a Bossa Nova, era um livro sobre as pessoas que fizeram a Bossa Nova, uma geração interessantíssima, fascinante, jovem, moderna, numa época espetacular do Brasil que até então era muito pouco estudada. O período Juscelino era muito pouco estudado. Hoje tem milhões de livros a respeito, mas em 1990 não tinha quase nada. Acho que foi a quantidade de informações, presente em Chega de saudade, que abarcava toda uma época e um contexto, que surpreendeu as pessoas.
Nelson
Descobri que queria fazer O anjo pornográfico no meio do Chega de saudade. Falei para o Luiz Schwarcz, “Assim que eu terminar o livro sobre a Bossa, quero biografar o Nelson Rodrigues”. E o Luiz, já irresponsavelmente na época, acreditava em tudo o que eu propunha para ele. Então já ficou definido que eu faria O anjo pornográfico, a biografia do Nelson Rodrigues, que não tinha esse título ainda.
Sem descanso
Quando fui fazer O anjo pornográfico, sabia que o livro seria julgado à luz do Chega de saudade. E seria, com toda a certeza, julgado desfavoravelmente. Então pensei o seguinte: “Em matéria de informação, tenho que passar com o trator em cima, dar marcha ré e passar de novo. Tem que ter mais informação ainda do que no Chega de saudade”. E foi o que eu fiz. Me empenhei para que tivesse mais informação. E o pior é que passei a usar isso como uma lei para mim mesmo: cada livro tem que ter mais informação do que o anterior. Por isso leva mais tempo para fazer. Chega de saudade e O anjo pornográfico levaram dois anos e pouco para escrever. O livro do Garrincha levou três. O livro da Carmen Miranda levou cinco. Ou seja: eu sempre me botando dificuldades a mais. Tem que ouvir mais gente, tem que ouvir mais gente mais vezes, tem que consultar a coleção inteira da revista tal, de 1930, tem que fazer isso, fazer aquilo, não posso descansar enquanto não apurar cada informação, cada pergunta que eu mesmo me tivesse proposto. A graça é exatamente essa: a cada problema que você propõe para o livro, tem que ir atrás da solução. Não pode descansar até solucionar. Isso é cláusula pétrea na preparação de uma biografia.
Texto e imagem reproduzidos do site: www bpp pr gov br/Candido