Publicado originalmente no site da Livraria Cultura
O livreiro que virou autor.
Por Maurício Duarte.
Pedro Herz é um dos mais importantes empresários do mercado
editorial brasileiro. À frente da Livraria Cultura, como presidente do Conselho
Administrativo, estão em suas mãos – e nas do filho, Sergio Herz, CEO da
empresa – 18 lojas, 1.500 funcionários, cerca de 5 milhões de clientes e um
acervo com quase 10 milhões de produtos. Levando em consideração que a rede
acaba de adquirir a Fnac Brasil, some-se a isso mais 12 lojas, mais algumas
centenas de funcionários e por aí vai. Apesar de todo esse currículo, no
entanto, ele se considera, acima de tudo, um livreiro. Não por acaso, O
livreiro é o título de seu livro, publicado pela editora Planeta e que chega ao
público em meados deste mês, seja em versão impressa ou como e-book.
Segundo o autor, o que o levou à decisão de publicar sua
história foi algo bastante trivial: o convite de uma editora. Quando foi
procurado para saber se tinha interesse em escrever, o desejo de tantos
livreiros – se tornar escritor – aflorou também em Pedro. “Já tinha passado
pela minha cabeça fazer alguma coisa, aí veio o estímulo da editora, me senti
honrado com o convite e toquei o barco”, conta.
Na obra, o livreiro narra a vinda de sua família –
imigrantes judeus fugidos da Alemanha nazista – ao Brasil e como eles
estabeleceram seus vínculos no país por meio dos livros. Em 1947, sua mãe, Eva
Herz (1911-2001), teve a ideia de adquirir e alugar livros em alemão e inglês
para seus colegas expatriados. Esse foi o embrião da Livraria Cultura, que
celebra 70 anos de trajetória neste 2017.
Embora não seja uma biografia propriamente dita, o livro
mescla saborosas histórias pessoais com os causos da família Herz, que viveu
entre os livros desde sempre. A vida do autor caminha lado a lado com o
crescimento empresarial da livraria, do qual Pedro foi um agente fundamental.
Para Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta e que acompanhou de
perto a feitura do livro, esse é um dos pontos altos da obra. “Estamos diante
de uma grande história: a de uma mulher que resolve alugar dez livros para uma
pequena comunidade de imigrantes e que dá início a uma história que envolve
milhões de livros. Em segundo lugar, porque não é sempre que temos a
oportunidade de acompanhar, no âmbito cultural, uma história tão significativa de
expansão empresarial. Em terceiro, porque Pedro é um grande contador de causos,
o que já demonstrou, por exemplo, em seu programa de TV”, diz.
A jornalista Laura Greenhalgh, que ajudou Pedro na
organização dos relatos, destaca que o livro é um documento importante de uma
figura que se tornou referência cultural no país. “Ele é muito implicado em
tudo aquilo que faz. Desde um diálogo que ele pode ter com um cliente na
livraria até grandes projetos que realiza como empresário. Um traço dele é
este: vale a pena se implicar nas coisas que nos dizem respeito”, afirma.
Pedro é um agregador, e isso fica evidente em suas
narrativas no livro, que envolvem muitos amigos, alguns deles personagens
relevantes da história brasileira. A questão da importância da amizade também é
ressaltada no prefácio, escrito pelo psicanalista e escritor Contardo
Calligaris.
Há momentos de tensão, como aqueles passados ainda sob o
regime ditatorial do Brasil, e outros de ternura, como quando ele lembra com
nostalgia a presença do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) em um lançamento
da livraria. “Fiquei muito impressionada pela lucidez que ele tem. Sabe da sua
importância e da importância da empresa. Ele tem essa noção muito clara de que
ele vai passar e que a vida é passar e deixar passar. É um livro bem aberto,
que dialoga muito com as pessoas”, completa Laura.
Aos 77 anos, Pedro acredita que, de alguma forma, a
realização da obra fecha um ciclo em sua vida. “Descobri, na realidade, uma
coisa que ouvia desde sempre: que você tem de plantar uma árvore, ter filhos e
escrever um livro. Como já fiz tudo isso, agora sinto minha missão cumprida.
Foi uma coisa totalmente espontânea. Mas, se isso é uma missão, sei que cumpri
e fico feliz”, pontua.
Texto e imagens reproduzidos do site: livrariacultura.com.br
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