sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Escrever é difícil, mas gratificante.

Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 28 de outubro de 2025

Escrever bem

Eu reviso obsessivamente, dia após dia, até que pare de melhorar. Deirdre McCloskey para a FSP:

Escrever é difícil, mas gratificante.

Essa dificuldade é bem expressa na piada: "Escrever não é difícil. É só ficar sentado tentando pensar em algo... até sair sangue da sua testa". Ou: "Eu poderia facilmente ser um escritor, mas não gosto do trabalho de escritório". Certamente há muito desse trabalho —que, falando sério, é o ofício que se pode aprender escrevendo. Trato disso num pequeno livro chamado "Economical Writing: Thirty-Five Rules for Clear and Persuasive Prose" (Escrita econômica: trinta e cinco regras para uma prosa clara e persuasiva –inédito em português), que revela os truques para trabalhar com palavras.

Por exemplo: "Expresse ideias paralelas de forma paralela"; ou simplesmente fique sentado tentando pensar em algo. Mas observe que, se você anotar um pensamento, a própria frase que escreveu sugere o próximo pensamento. Então, repita o processo várias vezes. Você terá um rascunho.

O trabalho difícil vem com revisão, revisão e mais revisão, usando dezenas de truques que se podem aprender. Hemingway zombou de "On the Road", de Jack Kerouac, em que Kerouac seguiu o plano uma sentença após a outra, mas não revisou nada. "Isso não é escrever", disse Hemingway. "É datilografar." Hemingway também disse que revisou o último parágrafo de "Adeus às Armas" 50 vezes.

Eu mesma reviso obsessivamente, dia após dia, de bom e de mau humor, até que pare de parecer melhor. Hoje somos abençoados com o processador de texto, que torna a revisão muito mais fácil que o papel e o lápis de Hemingway. "Escrever com facilidade torna a leitura difícil", disse ele.

A recompensa é a mesma de fazer qualquer coisa bonita, uma comida deliciosa para a ceia de Natal, uma letra de música no estilo de Rubel Brisolla, uma corrida de 5 quilômetros satisfatória no Parque Villa-Lobos, ou um belo gol contra o Palmeiras.

A beleza rege a escrita da mesma forma que rege a ciência e a religião. A beleza vem de uma coisa difícil que é bem feita. Se for muito fácil, é só digitação. Se for muito difícil, o sangue escorre pela testa. O grande psicólogo húngaro-americano Mihaly Csikszentmihalyi (1934-2021; nós o chamávamos apenas de "Mike") criou uma palavra para tal sucesso, a verdadeira felicidade em uma vida humana: "fluxo". Não é o prazer fácil de comer uma barra de chocolate. É fazer algo no limite da sua competência, e lindamente. Você fica, como dizemos, "absorto" na tarefa. O tempo para. Você esquece o almoço. O resultado é "Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores".

Suponho que hoje poderíamos desistir completamente de escrever e contar com a inteligência artificial para produzir romances, letras de músicas, tratados científicos e cartas para a mãe. A IA certamente é útil. Eu a uso para verificar meus fatos brasileiros. Mas cuidado: às vezes ela inventa fatos. Um pouco como os humanos.

Mas observe que nós, em inglês e português, usamos a mesma palavra, "bom", para descrever um belo verso na poesia e também uma boa ação na política. Ou seja, estética também tem a ver com ética, pelo menos quando os humanos, e não a natureza, estão sendo julgados. Belas cenas na natureza, como as cataratas do Iguaçu, não têm conteúdo ético. Elas são sublimes, mas não um bom comportamento.

E esse é um dos motivos pelos quais a escrita precisa dos humanos. Nós, humanos, julgamos. Como disse um grande poeta inglês, "a verdade é beleza".

Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com

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