Gullar, sem dúvida, deixou uma obra poética que
terá como
legado a imortalidade.
Foto: Divulgação.
Publicado originalmente pelo Portal Dom Total, em 05/12/2016.
Ferreira Gullar dentro da vida veloz.
O país fica menos poético com a partida do poeta maranhense
autor de "Poema Sujo".
Por Ricardo Soares*
A ceifadeira da morte, que esse ano trabalhou inclemente,
acaba de nos levar o poeta Ferreira Gullar e, piegas ou não, é mister dizer que
o país fica menos poético com a partida do poeta maranhense autor do seminal
"Poema Sujo" entre outras maravilhas que concebeu em quase 70 anos de
poesia desde "Um pouco acima do chão" de 1949.
Nos últimos anos parte da esquerda e o Fla-Flu político
generalizado colocou Gullar na vala comum dos imbecis, dos atrasados, dos
equivocados como se fosse bom negócio julgar o mérito de um artista por suas
convicções políticas. Mas isso não causa estranheza na medida em que parte
dessa mesma esquerda, completamente equivocada, considera o pusilânime Ciro
Gomes como alternativa presidencial.
O debate que se travou nas redes sociais a partir da morte
de Gullar é constrangedor, principalmente porque tanto seus detratores quanto
os defensores dão claras mostras de jamais terem lido um único verso dele,
reduzindo-o a uma espécie de porta-voz de conveniências. A que ponto chegamos
quando o vigor poético de um país se mede com essa régua.
Profissionalmente estive com Ferreira Gullar uma meia dúzia
de vezes durante a vida. A última creio que no dia 13 de março de 2004, no seu
apartamento de Copacabana, rodeado de gatos, livros de arte e, lógico, poesia.
Me autografou a 11º edição do seu " Toda Poesia", editado pela José
Olympio e me concedeu uma bela entrevista para o programa televisivo
"Mundo da Literatura" que eu então dirigia e apresentava.
A essa altura da pobreza e estreiteza educacional e
intelectual brasileira é muito triste ver a que ponto reduzimos Ferreira
Gullar. É de se lamentar o pouco conhecimento que se tem dele nas escolas e
universidades como lembrou ontem em entrevista à rádio Bandnews o escritor e professor
Deonísio da Silva, que bem recorda que quando muito se ensina – e ainda à base
de resumos - a poesia modernista pós semana de 1922. Se não chegamos ainda nem
a Gullar que dirá aos poetas que hoje estão vivos e bem dispostos, produzindo.
Fosse ser refém do desalento nacional, do pouco apreço às
palavras e aos versos talvez Gullar
tivesse durado menos que os 86 anos que viveu.
Não tenho aqui a menor pretensão de escrever algo muito original a seu
respeito. Há gente mais capacitada para isso. Mas faço questão de pedir
respeito ao morto não porque morto está. Mas porque, sem dúvida, deixou uma
obra poética que terá como legado a imortalidade.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de TV, roteirista e
jornalista.
Texto e imagem reproduzidos do site: domtotal.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário