Publicado originalmente no site Multi Rio, em 16 Março 2012.
A vida e a obra do polêmico escritor Jorge Amado
Por Márcia Pimentel
Popular, populista, agente do stalinismo, utópico,
anarquista, roteirista oficioso de Roberto Marinho, sexista, talentoso,
competente, desleixado com a Língua Portuguesa, sensível à condição humana,
romântico, vítima do preconceito elitista, bem-amado, mal-amado. Estes são
alguns dos adjetivos conferidos ao polêmico escritor baiano Jorge Amado,
traduzido para 49 idiomas e publicado em 55 países. Por muito tempo, foi
considerado como o único autor brasileiro a causar impacto no público e no
círculo acadêmico internacional.
Nascido em Itabuna, em 10 de agosto
de 1912, filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal
Amado, o escritor se insere no boom da literatura latino-americana, ocorrido
após a Revolução Cubana, como um de seus expoentes, juntamente com Gabriel
García Marques, Julio Cortázar e Mario Vargas Llosa, entre outros. Apesar de
uma trajetória bem-sucedida – era o escritor brasileiro com o maior número de
livros vendidos até a década de 1990, quando foi superado por Paulo Coelho –,
Jorge Amado sempre se deparou com a resistência de boa parte da crítica.
O alinhamento de suas primeiras obras com o realismo
socialista, estética oficial do governo soviético de Josef Stalin, e o desapego
formal de sua escrita, que dava mais ênfase ao enredo do que à linguagem
(segundo o próprio Amado), são alguns dos elementos utilizados contra o
escritor. O fato de o sucesso ter sido facilitado pela ampla difusão de seus
livros nas revistas e jornais dos partidos comunistas, em vários países do
mundo, também integra o quadro de argumentos daqueles que depreciam a obra
amadiana e minimizam sua importância para a literatura de Língua Portuguesa.
A presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ana
Maria Machado, em seu artigo Jorge Amado: uma releitura, explica que a má
vontade com a obra amadiana foi especialmente propagada por vários
departamentos de Português nas universidades europeias, nos tempos em que o
salazarismo ampliava suas raízes em Portugal. A resistência ao escritor baiano
teria aumentado com a tradução de seu primeiro livro para o francês. A folha de
rosto dizia se tratar de “uma tradução direto do brasileiro”, o que levou os
literatos lusitanos a ironizar o fato de a Língua Portuguesa ter mudado de
nome. O uso de palavrões e o registro da oralidade do brasileiro
transformaram-se também em mais argumentos contra o escritor por parte dos
defensores dos cânones da língua, que o acusavam de legitimar o linguajar
chulo.
Acadêmicos e militantes do meio literário
discordam, contudo, da visão que tenta rebaixar a obra do escritor baiano. Para
o crítico José Castello, Jorge Amado foi o escritor cuja obra mais contribuiu
para a construção da imagem do Brasil moderno como um país exuberante, com
homens e mulheres que, a despeito da árdua luta pela sobrevivência, vivem para
celebrar a vida. “Jorge Amado reinventou o Brasil. A partir dele, não podemos
mais pensar em nosso país sem as cores e o sensualismo, a mestiçagem e o
sincretismo, a fibra e a alegria que norteiam suas narrativas. (...) Se o
Brasil tem um autor, ele se chama Jorge Amado”, diz o crítico em um de seus
artigos publicados.
Do ponto de vista pessoal, não são poucos os que relatam que
o baiano sempre foi afável, caloroso e sorridente, que não encarava a
literatura como um exercício de nobreza intelectual, mas como uma espécie de
prazerosa brincadeira de criança. Com seu jeito bonachão, sempre foi cercado de
muitos amigos e admiradores dos mais diversos matizes ideológicos, entre eles
Jean-Paul Sartre, Pablo Picasso, Pablo Neruda, Roger Bastide, José Sarney e
Antônio Carlos Magalhães, entre outros. Sua convivência estreita, amorosa e
respeitosa com a cultura popular também lhe garantiu amizades amado
menininha_do_gantoiscom figuras memoráveis como Mestre Pastinha, o mais
celebrado mestre de capoeira, e a mãe-de-santo Menininha do Gantois. A relação
com o candomblé rendeu a Jorge Amado o título honorífico de Obá Arolu (uma espécie
de “ministro” de Xangô) no Axé Opô Afonjá. O escritor Moacyr Scliar, que fazia
parte de seu círculo de amizades, escreveu certa vez: “Jorge Amado era amável e
generoso. Gostava de gente. A todos recebia com uma cordialidade admirável. E
autêntica”.
Seja por mérito literário ou por sua rede de influências
políticas e de amizades, há um certo consendo de que Jorge Amado foi o autor
que mais impactou a formação de imagens sobre o Brasil durante o século XX.
Seus livros, além de muito vendidos em dezenas de países, foram adaptados para
o cinema, teatro, televisão e até mesmo balé e novelas radiofônicas. Por sua
importância em nosso imaginário, o portal da MultiRio apresenta uma série
especial de reportagens sobre a obra e a trajetória do polêmico escritor, que
ocupou a Cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras entre 1961 e 2001, quando
faleceu. A militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual foi
eleito deputado constituinte em 1946, o posterior rompimento com o partido, as
referências e as características estéticas, as diferentes visões sobre sua obra
são algumas das questões abordadas.
Conheça as obras publicadas de Jorge Amado
O país do carnaval (1931)
Cacau (1933)
Suor (1934)
Jubiabá (1934)
Mar morto (1936)
Capitães da areia (1937)
ABC de Castro Alves (1941)
O cavaleiro da esperança (1942)
Terras do sem fim (1943)
São Jorge dos Ilhéus (1944)
Bahia de Todos os Santos (1944)
O amor do soldado (1944)
Seara vermelha (1946)
O mundo da paz (1951)
Os subterrâneos da liberdade (1954)
Gabriela, cravo e canela (1958)
A morte e a morte de Quincas Berro D’água (1961)
Os velhos marinheiros (1961)
Os pastores da noite (1964)
Dona Flor e seus dois maridos (1966)
Tenda dos milagres (1969)
Teresa Batista cansada de guerra (1972)
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1976)
Tieta do Agreste (1977)
Farda, fardão, camisola de dormir (1979)
O menino grapiúna (1981)
A bola e o goleiro (1984)
Tocaia Grande (1984)
O sumiço da santa: uma história de feitiçaria (1988)
Navegação de cabotagem (1992)
A descoberta da América pelos turcos (1992)
O milagre dos pássaros (1997).
Texto e imagens reproduzidos do site: multirio.rj.gov.br
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