Publicado originalmente no site MultiRio, em 19 Março 2012.
Comunista, constituinte e exilado.
Por Márcia Pimentel.
Foi em 1932, um ano após a publicação de
seu primeiro livro, O país do carnaval, que Jorge Amado integrou-se à Juventude
Comunista, setor do Partido Comunista Brasileiro (PCB) voltado ao movimento
estudantil. Nessa época, ele dividia apartamento com o poeta Raul Bopp, em
Ipanema, no Rio de Janeiro, para onde havia se mudado para estudar Direito.
O engajamento do jovem baiano não foi um ato isolado dentro
do movimento literário. Nos anos 30 do século passado, vários escritores,
artistas e intelectuais brasileiros já eram filiados ao partido – a exemplo de
Rachel de Queiroz, a quem se atribui a aproximação de Amado ao PCB. O “namoro” de artistas e intelectuais com o
comunismo era, na verdade, um fenômeno mundial. A ameaça aos valores universais
pelo nazifascismo impulsionava-os a colocar seu prestígio a serviço do debate
político, contagiado pela utopia da sociedade sem classes da então recente
Revolução Russa de 1917.
De acordo com o crítico francês Benoîte Denis, o contexto
histórico daqueles tempos favoreceu a fascinação de grande parte do movimento
artístico-literário pelas massas, sua cultura e movimentos de libertação. Tal
fascínio se reverteu não apenas em temática de inúmeras obras, mas também na
busca de construção de uma nova ética social. A postura de Amado não destoava
desse quadro geral.
Prisões e exílios.
O engajamento político do baiano lhe rendeu muitas prisões,
exílios e livros queimados. Acusado de subversão, foi preso pela primeira vez
em 1936, logo após a Intentona Comunista organizada pela Aliança Nacional
Libertadora (ANL), em novembro de 1935. Na época, Amado era redator de A Manhã,
um dos principais veículos de divulgação da ANL, e integrava o corpo editorial
da revista Movimento, do Centro de Cultura Moderna, que apoiava a entidade
insurgente.
Com a onda repressiva deflagrada pelo Estado
brasileiro após a tentativa de insurreição da ANL, Jorge Amado decide deixar o
país. Faz uma longa viagem pela América Latina e pelos Estados Unidos durante
1937. Quando volta ao Brasil em novembro, ainda no desembarque, no porto de
Belém, toma conhecimento do golpe de Getúlio Vargas e da decretação de sua
prisão. Foge para Manaus, mas lá é preso novamente. Seus livros, considerados
subversivos pelo novo governo, são queimados em praça pública, em Salvador. É
solto no ano seguinte e em 1939, com a tortura de presos políticos e a
desarticulação do PCB pelo Estado Novo, volta a intensificar sua atividade
política.
Após sucessivas prisões e com a proibição do livro ABC de
Castro Alves, publicado em capítulos pela revista Diretrizes, decide se
autoexilar novamente. Mora no Uruguai, Argentina, França e União Soviética
entre os anos de 1941 e 1943, e, quando retorna ao Brasil, tem nova prisão
decretada. É solto após três meses, mas é obrigado a viver na Bahia. Em janeiro
de 1945, participa, como chefe da delegação baiana, do I Congresso de
Escritores, em São Paulo, onde passa a morar e onde conhece Zélia Gatai, com
quem viria a viver até o fim de seus dias e com quem teria dois filhos (João
Jorge e Paloma).
Com o fim da II Guerra Mundial, o desmantelamento do Estado
Novo e a legalização do PCB, Jorge Amado é eleito, pelo estado de São Paulo,
deputado à Assembléia Nacional Constituinte, em dezembro de 1945. É dele o
projeto que garantiu a liberdade de culto e o fim da perseguição às
manifestações religiosas afro-brasileiras. Além disso, defendeu com os demais
constituintes comunistas vários outros pontos em favor das liberdades
democráticas, como o direito de voto do analfabeto – que só viria a ser
constitucionalmente reconhecido em 1988.
Radicalização e imortalidade.
Com a promulgação da Carta Constitucional em setembro de
1946, Amado passa a exercer o mandato de deputado ordinário como membro efetivo
da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Mas o PCB é colocado
de novo na ilegalidade e todos os parlamentares comunistas têm seu mandato
cassado em janeiro de 1948. Amado parte para mais um exílio. Junto com a
família, fixa residência em Paris, mas, por motivos políticos, o governo
francês o expulsa do país em 1950. Vai para a então Tchecoslováquia e passa a
viver no castelo da União dos Escritores.
Essa fase é marcada pela radicalização política de sua
literatura. Em 1951, recebe o Prêmio Internacional Stalin de Literatura, em
Moscou. Em 1954, publica a trilogia Os subterrâneos da liberdade, mas abandona
a militância política no ano seguinte, com a divulgação dos crimes cometidos
por Stalin pelos próprios soviéticos. Desde então, passa a dedicar-se somente à
literatura. Em 6 de abril de 1961, depois
do estrondoso sucesso de Gabriela, cravo e canela, conquista a cadeira
23 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e se torna imortal.
Texto e imagens eproduzidos do site: multirio.rj.gov.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário