Saraiva Mega Store (Foto: Divulgação)
Publicado originalmente no site Infomoney, em 14 de novembro de 2018
Quebradas, grandes livrarias brasileiras lutam para se
reerguer
Juntas, a livraria Saraiva e livraria Cultura respondem por
40% das vendas de livros de todo o país, mas dívidas estão cada vez maiores
Por Júlia Miozzo
SÃO PAULO – A Livraria Saraiva divulgou na última
segunda-feira (12) os resultados do terceiro trimestre e confirmou que a crise
do mercado editorial a atingiu em cheio. A varejista dobrou seu prejuízo no
período, que chegou a R$ 66,6 milhões no trimestre. Em 2017, ele era de 33,4
milhões.
Seu lucro líquido caiu 33,5% na comparação ano a ano – foi
de R$ 81,2 milhões no último trimestre e de R$ 122 milhões no mesmo período do
ano passado.
Um “prólogo” dessa situação já vinha sendo desenhado desde o
início do ano. Ela não compareceu à Bienal do Livro de São Paulo deste ano,
maior evento do setor no país e onde tinha um dos maiores estandes. No último
mês, ela anunciou o fechamento de 20 das 84 lojas abertas no Brasil; no ano
passado, eram 111 unidades em funcionamento.
O grande problema que enfrenta é o endividamento, de R$ 164
milhões líquidos no terceiro trimestre. É um saldo devedor 34% mais baixo do
que o apresentado no trimestre anterior, de R$ 249 milhões, mas que segue sem
perspectivas de ser quitado considerando que o Ebitda (lucro antes de juros,
impostos, depreciação e amortização) da varejista ficou em R$ 49 milhões
negativo, 90% maior do que o apresentado um ano antes.
A grande concorrente da Saraiva no país, Livraria Cultura,
também está em mais lençóis e entrou com pedido de recuperação judicial depois
de fechar todas as lojas da Fnac no Brasil, com dívida na casa dos R$ 285
milhões.
Ambas as redes de livrarias começaram a ter problemas também
com editoras por falta de pagamento. Como contamos no início de agosto, as
editoras Mythos, especializada em histórias em quadrinhos, e a Bookwire, a
maior de livros digitais, deixaram de distribuir seus títulos às gigantes por
conta de calote.
É uma situação preocupante também para as editoras já que,
juntas, a Saraiva e Cultura respondem por 40% da venda de livros no país.
Elas tentam reverter a situação para seguirem ladeira
abaixo: no último dia 6, o Snel (Sindicato Nacional das Editoras de Livros)
convocou uma reunião com a Saraiva para tentar renegociar as dívidas, mas
acabou recusando o acordo proposto, de que 45% da dívida fosse convertida em
ações e debêntures, que o restante fosse quitado em 120 parcelas e que cada
credor recebesse R$ 15 mil.
A tendência, com a recusa do acordo, é de que a Saraiva
também acabe entrando em recuperação judicial, tal como a Cultura.
O que explica?
Investimentos que não deram certo, promoções exageradas, a
crise econômica e o fortalecimento da Amazon no mercado brasileiro são alguns
dos fatores que, juntos, fizeram com que
as empresas chegassem à “beira do abismo”.
A abertura de megastores e a inclusão de eletrônicos no
catálogo, que exigiram um grande montante investido, não trouxeram retorno. A
estratégia de oferecer grandes descontos, de até 20%, em livros recém-lançados
e best-sellers para “enfrentar” a Amazon no mercado, somado ao encolhimento da
receita com venda de livros – de 20% entre 2015 e 2017 – impossibilitaram que a
contas ficassem no azul.
As empresas são as duas maiores players do mercado editorial
brasileiro, mas dizer que existe uma crise no “mercado de livros”, entretanto,
é errado: neste ano, ele cresceu 5,7% e teve aumento de 9,3% no faturamento,
segundo o Snel. A perspectiva é de que se veja um “bom fechamento de ano”.
Tentativas
No terceiro trimestre, a Saraiva teve queda de 11,7% nos
custos operacionais – e deve continuar se esforçando para diminuir ainda mais.
Junto com os resultados e fechamento de lojas, ela anunciou um corte de 700
funcionários e que deixará de vender eletrônicos, como smartphones e notebooks.
Eles passarão a ser oferecidos em um “marketplace próprio”.
A estratégia da empresa continua sendo de investir e focar
na transformação digital da companhia, expandindo seu marketplace próprio, e
também na venda omnicanal, integrando as vendas digitais e físicas.
Essa segunda é uma tendência do varejo no geral e, neste
ano, já tem dado bons resultados para a Saraiva: o serviço Click & Collect,
em que o cliente compra no e-commerce e retira os produtos em uma loja física
da Saraiva, já corresponde a 18,4% dos pedidos do site; além disso, dos
clientes que o escolhem, 2% realizam uma compra adicional nas lojas ao
retira-los.
A Cultura, por sua vez, pretende se transformar em uma
“companhia digital”. Em agosto, executivos da empresa comentaram sobre a
criação de um centro de inovações que tem trabalhado no desenvolvimento de
aplicativos, B.I. e mudanças para o marketplace; a expectativa é de que até
2020 80% da receita venha de canais digitais.
Junto das editoras, as livrarias agora pretendem limitar em
10% o desconto oferecido em lançamentos de livros durante seu primeiro ano de
venda, tal como o faz mercado editorial francês. Um pleito das associações já
está na Presidência. Dados os números recentes, entretanto, é necessário que os
esforços sejam ainda maiores.
Nesta quarta-feira (14), as ações da Saraiva (SLED4)
acumulam queda de 0,96%. No acumulado do ano, ela apresenta baixa de 49,13%.
Texto e imagem reproduzidos do site: infomoney.com.br
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