Foto: Carlo Wrede/Arquivo O Globo
João Cabral de Melo Neto
09 de Janeiro de 1920
09 de Outubro de 1999
(79 anos)
RESUMO
João Cabral de Melo Neto é um autor reconhecido na
literatura brasileira pelas poesias modernistas. Pertencente à geração de 45 do
modernismo nacional, João Cabral apresentou características surrealistas em
suas poesias, que eram marcadas pelo rigor formal e pela estruturação fixa.
Nascido em Recife, Pernambuco, o contato com a literatura de
cordel marcou os primeiros contatos de Cabral com as letras. Ainda menino, o
escritor lia as histórias para os funcionários do engenho do seu pai. Já no Rio
de Janeiro, frequentou encontros literários e conheceu importantes autores
nacionais. Lembrado pelo talento para escrever, o autor também foi diplomata,
tendo morado em vários países.
MOVIMENTO LITERÁRIO
Sua obra possui tendências surrealistas e períodos de poesia
popular. João Cabral de Melo Neto pode ser considerado um escritor modernista
de 3ª fase, ou da geração de 45.
Estilo
João Cabral era rigoroso com seus poemas, apresentando uma
estrutura mais fixa e com versos rimados. Seu estilo não é marcado pelo sentimentalismo,
é mais objetivo, racional. A obra de João Cabral de Melo Neto pode ser
considerada construtivista.
Não tinha romantismo em seus escritos, o poeta buscava
descrever as percepções do real, colocando de forma concreta as sensações. Além
disso, o autor buscava as oposições na sua poesia.
BIOGRAFIA
Filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem
Carneiro-Leão Cabral de Melo, o escritor nasceu em Recife, Pernambuco, mas
passou muito tempo em engenhos de açúcar, já que seu pai era um senhor de
engenho. Quando tinha apenas oito anos, João adorava os cordéis e costumava ler
vários para os empregados do engenho. É dessa época que vem a preocupação com o
povo nordestino, o menino via as diferenças da vida dos mais ricos, senhores de
engenho, e dos mais pobres.
Antes de começar a carreira literária, João Cabral trabalhou
na Associação Comercial de Pernambuco e no Departamento de Estatística do
Estado. Morando no Rio de Janeiro, passou a frequentar os encontros literários
nos cafés do centro da cidade. Teve contato com vários autores na roda
literária do Café Lafayette. Já em 1940, conhece o importante poeta Carlos
Drummond de Andrade. “Pedro de Sono”, de 1942, é a primeira publicação.
Casado com Stella Maria Barbosa de Oliveira, o autor teve
carreira também na diplomacia. Em 1947, como vice-cônsul, foi para o Consulado
Geral em Barcelona, Espanha. Três anos depois, seguiu para Londres, Inglaterra.
Durante esse tempo, publicou alguns textos.
O autor trabalhou ainda no jornal “A Vanguarda” enquanto respondia a um
inquérito por subversão.
De volta à diplomacia, foi enviado para Marselha, França,
depois para Madri, Espanha. Já em 1961, foi morar em Brasília, onde assumiu o
cargo de chefe de gabinete de Romero Cabral da Costa, Ministro da Agricultura.
A função durou pouco, como Jânio Quadros renunciou, o escritor foi mandando de
volta para Madri. Acabou indo para Genebra, Suíça, em 1964 e assumindo a função
de conselheiro da delegação brasileira nas Nações Unidas.
Com a morte da esposa em 1986, casou-se com Marly de
Oliveira. O escritor sofria com constantes dores de cabeça, por isso, tomava
aspirinas diariamente. Chegou a escrever sobre o assunto. Uma de suas obras
mais importantes é “Morte e Vida Severina”.
Primo do também escritor Manuel Bandeira, João Cabral foi
eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1968, ficou com a cadeira nº 37,
substituindo o jornalista Assis Chateaubriand. Recebeu da ABL o Prêmio Olavo
Bilac em 1955. Em 1990, ganha o Prêmio Luís de Camões e em 1993 o Jabuti.
Fontes: Academia Brasileira de Letras e Wikipedia
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Resumo da peça: “Morte e Vida Severina”
Autor: João Cabral de Melo Neto
Movimento: Modernismo - Geração de 45
Por Fernando Marcílio
Mestre em Teoria Literária pela Unicamp
Na abertura da peça, o retirante Severino se apresenta à
plateia e se dispõe a narrar sua trajetória. Sai do sertão nordestino em
direção ao litoral, em busca da vida que escasseava em sua terra. Ao longo do
caminho, mantém uma série de encontros com tipos nordestinos. Logo de saída
encontra os irmãos das almas, lavradores encarregados de conduzir a um
cemitério distante o corpo de um colega, assassinado a mando de latifundiários.
Aos poucos, assiste à seca do rio Capiberibe, que Severino segue em sua viagem
ao litoral. Passa por um lugarejo e ouve uma cantoria vinda de uma casa.
Trata-se do canto de excelências, isto é, fúnebre, em honra a outro Severino
morto.
Com a morte definitiva do rio, Severino pensa em desistir de
sua viagem, mas acaba por optar pelo prosseguimento. Assim, planeja instalar-se
naquele mesmo lugar. Conversando com uma moradora, percebe que nenhuma das
atividades que poderia desempenhar – agricultura e pecuária – encontraria
espaço ali, mas apenas aquelas ligadas à morte, como rezadeira e coveiro.
Severino continua sua jornada e passa pela Zona da Mata,
região de relativa prosperidade no interior do sertão. Encanta-se com a
natureza verdejante do lugar, mas percebe ainda a presença da morte ao
testemunhar o funeral de um lavrador que se realiza no cemitério local.
Abandona o pensamento inicial de encerrar ali a busca que mantinha pela vida e
continua sua viagem.
Por fim, chega ao Recife, onde resolve descansar ao pé de um
muro. Trata-se de um cemitério, e Severino escuta então o diálogo entre dois
coveiros. Os trabalhadores conversam sobre o trabalho que lhes dão os
retirantes que saem de suas casas sertanejas para morrer ali, fazendo-o ademais
no seco e não no rio – o que lhes daria menos serviço e mais sossego. Diante
desse novo encontro com a morte, Severino resolve entregar-se a ela e se matar,
atirando-se em um dos rios que cortam a cidade.
Ao se aproximar do rio, inicia um diálogo com José, mestre
carpina (carpinteiro), morador ribeirinho. Pergunta-lhe se aquele ponto do rio
era propício ao suicídio. O mestre responde positivamente, mas tenta convencer
o retirante a não se atirar. Severino pede então que lhe dê uma única razão
para não fazê-lo.
A resposta do mestre é interrompida pelo anúncio do
nascimento de seu filho. José o celebra com vizinhos e conhecidos, recebe os
presentes pobres que lhe trazem, ouve as previsões pessimistas de duas ciganas
a respeito do futuro da criança e, por fim, recordando-se da pergunta de
Severino, dispõe-se a respondê-la. Afirma então que ele, José, não tem a
resposta para a questão de saber se a vida vale ou não a pena, mas que o
nascimento de seu filho funciona como resposta, representando a reafirmação da
vida diante da morte.
CONTEXTO
Sobre o autor
João Cabral é o maior poeta da terceira fase modernista.
Mais do que isso: forma, ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Manuel
Bandeira o trio de poetas mais importantes da nossa história. É o poeta da
pesquisa formal, da exatidão, da linguagem enxuta cuja matriz está,
reconhecidamente, em Graciliano Ramos.
Importância do livro
Em Morte e Vida Severina, sem abrir mão do rigor imagético e
da síntese expressiva, João Cabral alcança uma comunicabilidade maior, talvez
em função do fato de ter sido desafiado a escrever uma peça de teatro – destinada,
portanto, a um público mais amplo do que aquele que sua poesia poderia
alcançar. A abordagem do drama da seca é feita de tal forma a dialogar com o
romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, do qual funciona quase como
continuação.
Período histórico
Os anos 1950 se caracterizam na história brasileira pelo
desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitscheck. Trata-se de um período
de grande entusiasmo cultural e intelectual, que atinge o campo da literatura
em autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, além do próprio João
Cabral.
ANÁLISE
João Cabral classificou sua peça de auto de natal
pernambucano, levando em conta tanto a forma popular dos versos curtos, comuns
nos autos medievais, quanto a circunstância de tratar de um nascimento (natal) e
de ambientar-se no sertão pernambucano. O título promove uma proposital
inversão entre vida e morte, colocando está em primeiro lugar. Essa troca da
ordem natural indica os encontros com a morte e a vitória da vida, no final.
LEMBRETE
Morte e Vida Severina é uma peça de teatro em versos. O
autor resgata uma forma popular – os versos curtos – para tratar de um assunto
que atingia particularmente o povo nordestino: a seca.
Além disso, o nome próprio Severina é usado como adjetivo no
título, sugerindo uma ampliação de sentido que é confirmada logo nas primeiras
palavras do retirante, que, ao tentar se apresentar, evidencia que sua situação
particular é, na verdade, uma metonímia do que ocorre com outros sertanejos,
igualmente vítimas da seca.
Em seu caminho em direção ao litoral, Severino alterna
diálogos e monólogos. Os primeiros representam os encontros sucessivos com
figuras simbólicas da morte – irmãos de almas, carpideiras, rezadeiras, funeral
–, inseridas no fundo social da peça, que é a disputa pela terra. Já os
monólogos mostram as reflexões do retirante, que tenta redefinir seus rumos
depois de cada diálogo.
Os pontos culminantes da trajetória fatalista do retirante
são a morte do rio cujo percurso ele acompanha até o litoral – representação de
um meio que se rende à morte como o morador instalado nele – e o paradoxo do
contato com ofícios que demonstram vitalidade justamente porque associados à
morte – rezadeira, coveiro, farmacêutico etc.
A chegada à cidade é a desilusão final do retirante. O diálogo
travado entre os coveiros funciona como sua sentença de rendição à morte, ato
máximo de seu desespero. Por outro lado, o nascimento de uma criança instala a
contradição entre a opção de saltar fora da vida, desistindo dela e a
alternativa de agarrar-se à existência e resistir à morte opressora. Nesse
sentido, a simbologia da criança – para além de figurar o nascimento de Cristo,
em sua condição de filho de carpinteiro – abarca a ideia da purificação, da
limpeza de toda a podridão associada à morte.
A peça não resolve a contradição, já que sua última fala é a
do carpina propondo a vida a Severino, sem que se saiba a opção feita por este.
No entanto, o título da peça, que propõe o encontro final com a vida, parece
sugerir a vitória da resistência e da insistência na esperança.
Texto e imagem reproduzidos do site: educacao.globo.com
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