Publicado originalmente no site do jornal CORREIO BRAZILIENSE, em 07/02/2020
'Gesto deplorável', diz Academia Brasileira de Letras após
censura a livros
Academia Brasileira de Letras reagiu ao memorando do governo
de Rondônia que censura clássicos da literatura nas escolas do estado
CB Correio Braziliense
A Academia Brasileira de Letras (ABL) classificou como
"deplorável" o memorando da Secretaria Estadual de Educação de
Rondônia que determina o recolhimento de 43 livros considerados
"inadequados" a crianças e adolescentes. A lista censura títulos de
autores consagrados como Machado de Assis, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues e
Franz Kafka.
"Trata-se de gesto deplorável, que desrespeita a
Constituição de 1988, ignora a autonomia da obra de arte e a liberdade de
expressão. A ABL não admite o ódio à cultura, o preconceito, o autoritarismo e
a autossuficiência que embasam a censura", informou a instituição em nota.
Segundo a ABL, não é possível aceitar a censura de livros no
século XXI. "Esse descenso cultural traduz não apenas um anacronismo
primário, mas um sintoma de não pequena gravidade, diante da qual não faltará a
ação consciente da cidadania e das autoridades constituídas", pontuou.
A imagem começou a viralizar na internet na quinta-feira
(6/2) e traz ainda uma observação curiosa. "Todos os livros do Rubem Alves
devem ser recolhidos". O autor, morto em 2014, tem 27 obras publicadas
entre os temas da educação, filosofia e religião.
A princípio, o secretário de Educação do estado, Suamy
Vivencanda, disse que o memorando era falso. No entanto, foi confrontado pela
Folha de S. Paulo com imagens do documento dentro do sistema do governo, e
mudou o tom do comentário. Disse que não acompanhou os trabalhos da secretaria
durante a semana e que as obras não seriam recolhidas.
Governador de Rondônia
Rondônia é governada pelo coronel Marcos Rocha, do PSL, um
dos principais aliados o presidente Jair Bolsonaro na região Norte. Ele já
sinalizou que pretende acompanhar o chefe do executivo em sua nova sigla, o
Aliança pelo Brasil.
O presidente e seus aliados, especialmente os da ala
ideológica, defendem mudanças na educação contra a "doutrinação de
esquerda". Em janeiro, Bolsonaro criticou os livros didáticos dizendo que
são um "amontoado de muita coisa escrita", e prometeu
"suavizar" o conteúdo.
Texto e imagens reproduzidos do site: correiobraziliense.com.br
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