Foto reproduzida da Fanpage
Facebook/Academia Brasileira de Letras
Publicado originalmente no site ACADEMIA, em 27 de maio de
2020
Morre no Rio de Janeiro, aos 91 anos, o Acadêmico Murilo
Melo Filho
O Acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho faleceu na manhã
do dia 27 de maio, no Hospital Pró-Cardíaco, vítima de falência múltipla de
órgãos. O sepultamento foi feito no mausoléu da Academia Brasileira de Letras.
Diante da recomendação de se evitar reuniões e aglomerações por conta do
coronavírus, não houve velório.
“Murilo Melo Filho foi um dos grandes jornalistas
brasileiros da segunda metade do século XX. Acompanhou de perto a política
nacional, a construção de Brasília e a guerra do Vietnã. Conheceu inúmeros
chefes de Estado, a quem dedicou páginas antológicas, dos mais variados
espectros políticos. Foi também um
acadêmico exemplar, assíduo, com a disposição de emprestar seu talento aos mais
diversos cargos e serviços na Academia. Guardo a imagem de um homem bom, de uma
alta sensibilidade humana, voltada sobretudo para os mais vulneráveis e
desprovidos. Um momento de tristeza.”, afirmou o Presidente da ABL, Acadêmico
Marco Lucchesi
“Murilo sempre foi aquele homem de caráter primoroso, amigo
de seus amigos. Chamava aqueles que trabalhavam com eles de
"coleguinhas", e assim ele era correspondido, sempre com muita
admiração e sempre com muito carinho. Ele entrou para a Academia Brasileira de
Letras na Cadeira nº20 e eu tive o privilégio de saudá-lo. Isso foi para mim
uma das honras maiores da minha vida acadêmica. Murilo partiu, mas deixou uma
obra extraordinária; na minha opinião foi o maior repórter político do Brasil
durante todos os anos em que trabalhou ativamente na imprensa. Ele deixou um
estilo cristalino, um estilo direto, formidável. Esse é o Murilo que nós
saudamos.”, comentou Arnaldo Niskier, acadêmico ocupante da Cadeira nº18.
"Foi um jornalista atento, incansável, tinha fontes
excelentes entre os políticos, era absolutamente sério na sua produção e fez
escola no jornalismo político com o seu estilo sintético, informativo e
analítico. Como companheiro na Academia Brasileira foi também sempre presente e
ativo. Não havia livro de confrades ou confreiras lançados que ele não tivesse
a oportunidade de dissertar. Foi uma presença ativa na Academia, foi diretor da
Biblioteca, jamais faltou a uma sessão enquanto pôde. infelizmente, passou por
uma fase muito dificil da doença e agora perdemos um companheiro, vamos
lamentar muito e vai nos deixar muitas saudades”, declarou o Acadêmico Cicero
Sandroni.
“Eu sempre fui amigo dele e de sua adorável mulher
companheira, colaboradora, e que deve estar começando a sentir profundas
saudades dele. E eu a entendo. Murilo vai fazer falta para nós. Ele ficou me
devendo uma informação: Desapareceu da casa do embaixador brasileiro em Cuba,
numa visita de Fidel Castro, o revólver do Fidel. Ele tirou e o botou em cima
da mesa. Ele [Murilo] me prometeu que um dia diria, nunca disse quem roubou,
mas agora que não vou saber. Saudades de Murilinho, como a gente chamava.”
lembrou o Acadêmico Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça.
O Acadêmico
Sexto ocupante da Cadeira nº 20, foi eleito em 25 de março
de 1999, na sucessão de Aurélio de Lyra Tavares e recebido em 7 de junho de
1999 pelo Acadêmico Arnaldo Niskier.
Murilo Melo Filho nasceu em Natal no dia 13 de outubro de
1928. Filho de Murilo Melo e de Hermínia de Freitas Melo, é o mais velho de uma
irmandade de sete. Fez o curso primário no Colégio Marista e o colegial no
Ateneu Norte-Riograndense. Aos 12 anos, ainda de calças curtas, começou a
trabalhar no Diário de Natal, com Djalma Maranhão, escrevendo um comentário
esportivo e ganhando o salário de 50 mil réis por mês. Trabalhou, a seguir, em
A Ordem, com Otto Guerra, Ulysses de Góes e José Nazareno de Aguiar, e em A
República, com Valdemar de Araújo, Rivaldo Pinheiro, Aderbal de França, Luís
Maranhão e Luís da Câmara Cascudo; na Rádio Educadora de Natal, com Carlos
Lamas, Carlos Farache e Genar Wanderley; e na Rádio Poti, com Edilson Varela e
Meira Filho.
Aos 18 anos, veio para o Rio, onde estudou no Colégio Melo e
Souza e foi aprovado em concursos públicos para datilógrafo do IBGE e do
Ministério da Marinha, ingressando a seguir no Correio da Noite, como repórter
de polícia.
Trabalhou seguidamente na Tribuna da Imprensa, com Carlos
Lacerda; no Jornal do Commercio, com Elmano Cardim, San Thiago Dantas e Assis
Chateaubriand; no Estado de S. Paulo, com Júlio de Mesquita Filho e Prudente de
Moraes Neto; e na Manchete, com Adolpho Bloch.
Estudou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro e na Universidade do Rio de Janeiro, pela qual se formou em Direito.
Chegou a advogar durante sete anos. Costumava dizer que quem se forma em
Direito pode até advogar.
Como repórter free-lancer, entrou para a Manchete, criando a
seção "Posto de Escuta", que escreveu durante 40 anos. Nessa mesma
época, dirigiu e apresentou na TV-Rio, com Bony, Walter Clark e Péricles do
Amaral, o programa político Congresso em Revista, que ficou no ar
ininterruptamente durante sete anos, sendo a princípio produzido e apresentado
no Rio e, depois, em Brasília.
Viveu na Nova Capital durante o atribulado qüinqüênio de
1960 a 1965, que testemunhou em centenas de reportagens. Construiu ali a sede
de Bloch Editores e da Manchete e foi, a convite de Darcy Ribeiro e de Pompeu
de Souza, professor de Técnica de Jornalismo na Universidade de Brasília.
Sempre em missões jornalísticas, acompanhou os
ex-presidentes Juscelino Kubitschek a Portugal; Jânio Quadros a Cuba; João
Goulart aos Estados Unidos, ao México e Chile; Ernesto Geisel à Inglaterra e à
França; e José Sarney a Portugal e aos Estados Unidos.
Cobriu a Guerra do Vietnã, com o fotógrafo Gervásio
Baptista, em 1967, e foi o primeiro jornalista brasileiro a cobrir a Guerra do
Camboja, com o fotógrafo Antônio Rudge, em 1973, tendo chegado a Saigon e
Phnom-Penh, via Tóquio.
Texto e imagem reproduzidos do site: academia.org.br
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