Se me quiseres amar não despe somente a roupa. Eu digo: também a crosta feita de escamas de pedra e limo dentro de ti, pelo sangue recebida tecida de medo e ganância má. Ar de pântano diário nos pulmões. Raiz de gestos legais e limbo do homem só numa ilha. Eu digo: também a crosta essa que a classe gerou vil, tirânica, escamenta. Se me quiseres amar. Agora teu corpo é fruto. Peixe e pássaro, cabelos de fogo e cobre. Madeira e água deslizante, fuga ai rija cintura de potro bravo. Teu corpo. Relâmpago depois repouso sem memória, noturno.
Jacinta Passos [1914-1973], escritora baiana, publicou quatro livros de poemas - Momentos de poesia, Canção da Partida, Poemas políticos e A Coluna – e foi jornalista atuante. Feminista, comunista, internada em sanatórios como louca, enfrentou duros estigmas, com coragem e coerência". (Extraido do site de Janaina Amado, filha de Jacinta Passos).
"A poesia está em mim mesma e para além de mim mesma. Quando eu não for mais um indivíduo, eu serei poesia Quando nada mais existir ente mim e todos os seres, os seres mais humildes do universo, eu serei poesia. Meu nome não importa. Eu não serei eu, eu serei nós, serei poesia permanente, poesia sem fronteiras."
"Canção do amor livre
ResponderExcluirJacinta Passos
Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta
feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida
tecida
de medo e ganância má.
Ar de pântano diário
nos pulmões.
Raiz de gestos legais
e limbo do homem só
numa ilha.
Eu digo: também a crosta
essa que a classe gerou
vil, tirânica, escamenta.
Se me quiseres amar.
Agora teu corpo é fruto.
Peixe e pássaro, cabelos
de fogo e cobre. Madeira
e água deslizante, fuga
ai rija
cintura de potro bravo.
Teu corpo.
Relâmpago depois repouso
sem memória, noturno.
Jacinta Passos [1914-1973], escritora baiana, publicou quatro livros de poemas - Momentos de poesia, Canção da Partida, Poemas políticos e A Coluna – e foi jornalista atuante. Feminista, comunista, internada em sanatórios como louca, enfrentou duros estigmas, com coragem e coerência". (Extraido do site de Janaina Amado, filha de Jacinta Passos).
"Eu serei Poesia"
ResponderExcluirde Jacinta Passos
"A poesia está em mim mesma e para além de mim mesma.
Quando eu não for mais um indivíduo,
eu serei poesia
Quando nada mais existir ente mim e todos os seres,
os seres mais humildes do universo,
eu serei poesia.
Meu nome não importa.
Eu não serei eu, eu serei nós,
serei poesia permanente,
poesia sem fronteiras."
Puxa, que legal encontrar Jacinta aqui! Obrigada!
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