sexta-feira, 4 de março de 2011

Poema "Canção do Amor Livre" de Jacinta Passos

3 comentários:

  1. "Canção do amor livre
    Jacinta Passos

    Se me quiseres amar
    não despe somente a roupa.
    Eu digo: também a crosta
    feita de escamas de pedra
    e limo dentro de ti,
    pelo sangue recebida
    tecida
    de medo e ganância má.
    Ar de pântano diário
    nos pulmões.
    Raiz de gestos legais
    e limbo do homem só
    numa ilha.
    Eu digo: também a crosta
    essa que a classe gerou
    vil, tirânica, escamenta.
    Se me quiseres amar.
    Agora teu corpo é fruto.
    Peixe e pássaro, cabelos
    de fogo e cobre. Madeira
    e água deslizante, fuga
    ai rija
    cintura de potro bravo.
    Teu corpo.
    Relâmpago depois repouso
    sem memória, noturno.

    Jacinta Passos [1914-1973], escritora baiana, publicou quatro livros de poemas - Momentos de poesia, Canção da Partida, Poemas políticos e A Coluna – e foi jornalista atuante. Feminista, comunista, internada em sanatórios como louca, enfrentou duros estigmas, com coragem e coerência". (Extraido do site de Janaina Amado, filha de Jacinta Passos).

    ResponderExcluir
  2. "Eu serei Poesia"
    de Jacinta Passos

    "A poesia está em mim mesma e para além de mim mesma.
    Quando eu não for mais um indivíduo,
    eu serei poesia
    Quando nada mais existir ente mim e todos os seres,
    os seres mais humildes do universo,
    eu serei poesia.
    Meu nome não importa.
    Eu não serei eu, eu serei nós,
    serei poesia permanente,
    poesia sem fronteiras."

    ResponderExcluir
  3. Puxa, que legal encontrar Jacinta aqui! Obrigada!

    ResponderExcluir