Foto reproduzida do site: diariodocentrodomundo.com.br
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de
Itaparica, Bahia, em 23 de janeiro de 1941, na casa de seu avô materno, à Rua
do Canal, número um, filho primogênito de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel
Ribeiro. O casal teria mais dois filhos: Sonia Maria e Manoel. Ao completar
dois meses de idade, João muda-se com a família para Aracajú, SE, onde passaria
a infância.
Em 1947 inicia seus estudos com um professor particular. Seu
pai, professor e político, segundo o biografado, não suportava ter um filho
analfabeto em casa. Já alfabetizado, em 1948 ingressa no Instituto Ipiranga. A
partir daí permaneceria horas trancado na biblioteca de sua casa devorando
livros infantis, sobretudo os de Monteiro Lobato. Forçado por seu austero pai,
iria se dedicar com afinco aos estudos, procurando ser sempre o primeiro da
classe. Sobre essa fase de sua vida leia mais em "Memória de Livros".
No ano de 1951 ingressa no Colégio Estadual de Sergipe.
Sempre dedicado aos estudos, prestava ao pai, diariamente, contas sobre os
livros lidos, sendo, algumas vezes, solicitado a resumi-los e a traduzir alguns
de seus trechos. João era também solicitado a verter para o português canções
francesas que o pai ouvia. Não tinha folga nem nas férias, pois nelas praticava
o latim e copiava os sermões do padre Vieira, apesar de afirmar que fazia
aquilo com prazer. Manoel Ribeiro, seu pai, era chefe da Polícia Militar e,
nessa época, passa a sofrer pressões políticas, o que o faz transferir-se com a
família para Salvador. Na capital baiana João Ubaldo é matriculado no Colégio
Sofia Costa Pinto. Conta ele que era perseguido pela professora de inglês, em
virtude de seu sotaque. "Ela não percebeu que eu falava inglês britânico,
já que estudara em Sergipe com um professor educado na Escócia", diz o
escritor. Desafiado, dedica empenho extraordinário ao idioma, chegando a
decorar 50 palavras por dia. Vizinho de engenheiros americanos, faz amizade com
seus filhos para aprimorar ainda mais seus conhecimentos da língua inglesa.
Em 1955 matricula-se no curso clássico do Colégio da Bahia,
conhecido como "Colégio Central".
1956 marca o início da amizade com Glauber Rocha, seu colega
na escola.
Estréia no jornalismo, começando a trabalhar como repórter
no Jornal da Bahia, em 1957, sendo que posteriormente se transferiria para A
Tribuna da Bahia, onde chegaria a exercer o posto de editor-chefe.
Em 1958 inicia seu curso de Direito na Universidade Federal
da Bahia. Com Glauber Rocha edita revistas e jornais culturais e participa do
movimento estudantil. Apesar de nunca ter exercido a profissão de advogado, foi
aluno exemplar. Lê (ou relê), então, os grandes clássicos: Rabelais,
Shakespeare, Joyce, Faulkner, Swift, Lewis Carroll, Cervantes, Homero, e, entre
os brasileiros, Graciliano Ramos e Jorge de Lima. Nessa mesma Universidade,
concluído o curso de Direito, faz pós-graduação em Administração Pública.
Participa da antologia Panorama do Conto Bahiano, organizada
por Nelson de Araújo e Vasconcelos Maia, em 1959, com "Lugar e
Circunstância", e publicada pela Imprensa Oficial da Bahia. Passa a
trabalhar na Prefeitura de Salvador como office-boy do Gabinete e, em seguida,
como redator no Departamento de Turismo.
Seu primeiro casamento dá-se em 1960 com Maria Beatriz
Moreira Caldas, sua colega na Faculdade de Direito. Separaram-se após 9 anos de
vida conjugal.
Com "Josefina", "Decalião" e "O
Campeão" participa da coletânea de contos Reunião, editada pela
Universidade Federal da Bahia no ano de 1961, em companhia de David Salles
(organizador do livro), Noêmio Spinola e Sonia Coutinho.
Em 1963 escreve seu primeiro romance, "Setembro não faz
sentido", título que substituiu o original (A Semana da Pátria), por
sugestão da editora.
Em plena efervescência política do ano de 1964, João Ubaldo
parte para os Estados Unidos, através de uma bolsa de estudos conseguida junto
à Embaixada norte-americana, para fazer seu mestrado em Administração Pública e
Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul. Conta que, na sua
ausência, teve até sua fotografia divulgada pela televisão baiana, encimada por
um enorme "Procura-se". Segundo João, o movimento revolucionário não
sabia que ele, tido e havido como esquerdista, estava nos Estados Unidos às
expensas daquele país.
Volta ao Brasil em 1965 e começa a lecionar Ciências
Políticas na Universidade Federal da Bahia. Ali permaneceu por 6 anos, mas
desistiu da carreira acadêmica e retornou ao jornalismo.
Com o prefácio de Glauber Rocha, que se empenhou junto à
José Álvaro Editores pela sua publicação, João Ubaldo tem seu primeiro romance
"Setembro não faz sentido" impresso, com o apadrinhamento de Jorge
Amado.
Em 1969 casa-se com a historiadora Mônica Maria Roters, que
lhe daria duas filhas: Emília (nascida em fevereiro de 1970) e Manuela (cujo
nascimento ocorreria em junho de 1972). O casamento acabaria em 1978.
Em 1971 lança, pela Editora Civilização Brasileira, o
romance "Sargento Getúlio", merecedor do Prêmio Jabuti concedido pela
Câmara Brasileira do Livro, em1972, na categoria "Revelação de
Autor". O livro é inspirado principalmente num episódio ocorrido na
infância de João Ubaldo, envolvendo um certo sargento Cavalcanti, que recebera
17 tiros num atentado em Paulo Afonso, na Bahia; resgatado pelo pai do autor,
então chefe da polícia de Sergipe, chegaria com vida em Aracaju. Segundo a
crítica, esse livro filiou seu autor a uma vertente literária que sintetiza o
melhor de Graciliano Ramos e o melhor de Guimarães Rosa.
Publica, em 1974, o livro de contos "Vencecavalo e o
outro povo" (cujo título inicial era "A guerra dos Pananaguás"),
pela Artenova.
Com tradução feita pelo próprio autor, o romance
"Sargento Getúlio" é lançado nos Estados Unidos em 1978, com boa
receptividade pela crítica daquele país.
Em 1979 passa nove meses como professor convidado do
International Writting Program da Universidade de Iowa e publica no Brasil,
pela Nova Fronteira, que a partir de então seria sua principal editora, um
"conto militar", na sua definição, intitulado "Vila Real".
1980 marca seu terceiro casamento, com a fisioterapeuta
Berenice Batella, que lhe daria dois filhos: Bento e Francisca (nascidos em
junho de 1981 e setembro de 1983, respectivamente). Participa, em Cuba, do júri
do concurso Casa das Américas, juntamente com o critico literário Antônio
Cândido e o ator e diretor de teatro Gianfrancesco Guarnieri. O primeiro prêmio
foi concedido à brasileira Ana Maria Machado.
Muda-se, com a família, para Lisboa, Portugal, em 1981,
graças a uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Edita, no
período em que ali viveu, com o jornalista Tarso de Castro, a revista Careta.
De volta ao Brasil, passa a residir no Rio de Janeiro, cidade que tanto ama, e
lança "Política", livro até hoje adotado por inúmeras faculdades.
Lança, também, "Livro de Histórias" (depois republicado com o título
de "Já podeis da pátria filhos"), coletânea de contos. Inicia
colaboração com o jornal "O Globo", que perdura até hoje, com
pequenas interrupções, publicando uma crônica por semana. Sua produção dessa
época seria reunida em 1988 no livro "Sempre aos domingos".
Em 1982 inicia o romance "Viva o povo brasileiro",
que se passa na Ilha de Itaparica e percorre quatro séculos da história do
país. Originalmente o livro se chamava "Alto lá, meu general".
Segundo João, o livro nasceu de um desafio de seus editores e da lembrança de
uma afirmativa de seu pai, que dizia: "Livro que não fica em pé sozinho,
não presta." Como seus livros sempre tiveram poucas páginas, diante da
provocação, fez um com mais de 700. Nesse ano participou do Festival
Internacional de Escritores, em Toronto, Canadá.
No ano seguinte estréia na literatura infanto-juvenil com
"Vida e paixão de Pandonar, o cruel". Seu livro "Sargento
Getúlio" chega aos cinemas, num filme dirigido por Hermano Penna e
protagonizado por Lima Duarte. O longa-metragem receberia os seguintes prêmios
no Festival de Gramado: Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Som
Direto, Melhor Filme, Grande Prêmio da Crítica e Grande Prêmio da Imprensa e do
Júri Oficial. Volta a residir em Itaparica, na casa onde nascera.
"Viva o povo Brasileiro" é finalmente editado em
1984, e recebe o Prêmio Jabuti na categoria "Romance" e o Golfinho de
Ouro, do governo do Rio de Janeiro. Inicia a tradução desse livro para o
inglês, tarefa que lhe consumiria dois anos de trabalho e a partir do qual
passaria a utilizar o computador para escrever. Ao lado de Jorge Luis Borges e
Gabriel Garcia Marques, participa de uma série de nove filmes produzidos pela
TV estatal canadense sobre a literatura na América Latina.
João Ubaldo é consagrado na Avenida Marquês de Sapucaí: seu
livro "Viva o povo brasileiro" é escolhido como samba-enredo da
escola Império da Tijuca para o carnaval do ano de 1987.
Em 1989 lança o romance "O sorriso do lagarto".
Em 1990 publica "A vingança de Charles Tiburone",
sua segunda experiência em literatura infanto-juvenil. A convite da Deutsch
Akademischer Austauschdienst, muda-se com a família para Berlim, onde viveria
por 15 meses. Publica crônicas semanais no jornal Frankfurter Rundschau, além
de produzir peças radiofônicas de grande alcance popular, entre elas, uma
adaptação de seu conto "O santo que não acreditava em Deus".
Retorna ao Brasil em 1991, e volta a residir no Rio de
Janeiro. Seu romance "O sorriso do lagarto" é adaptado para o formato
de minissérie por Walter Negrão e Geraldo Carneiro e estréia na Rede Globo,
tendo como protagonistas Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy. Volta a
escrever no jornal O Globo e inicia colaboração no O Estado de São Paulo,
passando a publicar em ambos uma crônica aos domingos.
Em 1993 adapta "O santo que não acreditava em
Deus" para a série Caso Especial, da Rede Globo, que teve Lima Duarte no
papel principal. No dia 7 de outubro é eleito para a cadeira 34 da Academia
Brasileira de Letras, na vaga aberta com a morte do jornalista Carlos Castello
Branco. Disputavam com ele o piauiense Álvaro Pacheco e o mineiro Olavo
Drummond. No terceiro escrutínio João Ubaldo obteve 21 votos contra 13 de
Pacheco e um nulo.
Termina, em 1994, a adaptação cinematográfica, feita em
parceria com Cacá Diegues e Antônio Calmon, do romance "Tieta do
Agreste", de seu amigo e conterrâneo Jorge Amado. O filme teve a atriz
Sonia Braga no papel principal e direção de Cacá Diegues. Toma posse na
Academia Brasileira de Letras em 8 de junho. Cobre, nos Estados Unidos, a Copa
do Mundo de Futebol como enviado dos jornais O Globo e O Estado de São Paulo.
De volta ao Brasil é internado numa clínica em Botafogo, com arritmia cardíaca.
Participa da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, e lá recebe o Prêmio
Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e latino-americanos.
Recebe o prêmio Die Blaue Brillenschlange - concedido ao
melhor livro infanto-juvenil sobre minorias não-européias - pela edição alemã
de "Vida e paixão de Pandonar, o cruel". Lança o livro de crônicas
"Um brasileiro em Berlim", sobre sua estada naquela cidade.
Volta a participar da Feira do Livro de Frankfurt, em 1996.
Detém a cátedra de Poetik Dozentur na Universidade de Tubigem, Alemanha.
Em 1997 é internado novamente no Rio, desta vez com fortes
dores de cabeça provocadas por uma queda. Cacá Diegues compra os direitos de
filmagem do livro "Já podeis da pátria filhos". Renova contrato com a
Nova Fronteira, depois de receber propostas de outras editoras. Publica o
romance "O feitiço da Ilha do Pavão".
Participa em Paris do Salão do Livro da França, em 1998.
Vende os direitos de "Viva o povo brasileiro" para o cinema; o filme
deve ser dirigido pelo cineasta André Luis Oliveira. Lança o livro "Arte e
ciência de roubar galinha", seleção de crônicas publicadas nos jornais O
Globo e O Estado de São Paulo.
Durante a IX Bienal do Livro - Rio de Janeiro, em Abril de
1999, lançou o livro " A Casa dos Budas Ditosos", da série Plenos
Pecados, um romance sobre a luxúria publicado pela Editora Objetiva Ltda., que
obtém enorme sucesso de vendas.
Ainda em 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo
mundo para dar um depoimento ao jornal francês "Libération", sobre o
milênio que se aproxima. Escreveu, juntamente com Carlos (Cacá) Diegues, o
roteiro de um filme baseado em seu conto "O santo que não acreditava em
Deus", cujo título provisório é "Deus é brasileiro". Seu romance
"O feitiço da Ilha do Pavão" foi publicado em Portugal e em tradução
alemã, pela editora C.H. Beck. "A Casa dos Budas Ditosos" permanece,
no Brasil, há trinta e seis semanas entre os dez livros mais vendidos. Será
publicado brevemente na Espanha e já está com edições pré-contratadas em
diversos outros países. Seu lançamento em Portugal se transformou em problema
nacional face à proibição, por duas redes de supermercados, de sua venda
naqueles estabelecimentos. A primeira edição, de 5.000 exemplares, foi vendida
em poucos dias e novas edições estão no prelo. João Ubaldo, em janeiro/2000,
esteve lá para ser homenageado pelos escritores portugueses com um desagravo a
tal procedimento. Nessa oportunidade participou da Semana de Estudos Lusófonos,
na Universidade de Coimbra. Foi, também, citado em diversas antologias,
nacionais e estrangeiras, inclusive numa sobre futebol, publicada pelo jornal
"Le Monde", na França. Saíram várias reedições de seus livros na
Alemanha, incluindo uma nova edição de bolso de "Sargento Getúlio".
"O sorriso do lagarto" foi publicado na França. "A casa dos
Budas ditosos" está sendo traduzido para o inglês, nos Estados Unidos. Seu
livro "Viva o povo brasileiro" foi indicado para o exame de
Agrégation, um concurso nacional realizado na França para os detentores de
diploma de graduação.
Fonte site Releituras - Colaborou Antonio Teles Jr.
Texto reproduzido do site: casadobruxo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário